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Apartheid à brasileira

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Foi uma festa da democracia!

Não lembro se com ou sem ponto de exclamação, mas era por aí que eu redigia minha coluna assim que se encerravam as eleições majoritárias nos idos dos anos 80.

O País recém saíra de uma ditadura – ditadura, sim; cruel e assassina. Não, “movimento”, como quer um incerto e empolado magistrado – e, para nós, democratas e humanistas, o voto era uma conquista de muitos e muitos anos de luta e sofrimento.

Por isso, fosse qual fosse, o resultado das urnas era soberano, e verdadeiro.

Havia um lindo e promissor sonho na linha do horizonte – e este sonhar era perfeitamente factível de, num breve tempo, ver luzir por terras pátrias o Brasil de todos os brasileiros.

II.

Dou um salto no tempo.

Chego às eleições de ontem.

Acompanhei o noticiário do domingo, fui ao velho prédio do Colégio Francisco de Assis Reis consagrar o meu legítimo direito do voto, zanzei por outras zonas eleitorais, tudo muito bom, tudo muito bem. Na paz.

As pessoas, ali, com seus títulos de eleitores – agora nas mais diversas plataformas.

Raros e desimportantes incidentes.

Beleza pura, no mais.

Cumpriu-se o rito de uma Nação livre, independente – e contemporânea.

Mesmo assim, meus caros e pacientes leitores, acordo hoje sem qualquer inspiração para saudar o pleito de ontem como uma festa. Ou algo a ser comemorado.

III.

Não vejo legitimidade nessas eleições.

O País não vive um estado pleno de direito.

Rasgou-se a Constituição com o impeachment de Dilma Roussef.

E agora o Judiciário tem influência direta – e descabida, na minha opinião – nos resultados do primeiro turno ao vetar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. E, posteriormente, ao proibir que o jornal Folha de S.Paulo pudesse entrevistá-lo, em Curitiba.

Isto se chama CENSURA.

Não podemos dourar a pílula. Sacramentar o autoengano.

Lula é, sim, um preso político.

Este é um fato – internacionalmente reconhecido – que põe em xeque todas as filigranas da Lei que forjam uma aparente legalidade à situação que ora vivemos.

IV.

Sinceramente, não vejo o que comemorar.

Temos um Brasil perigosamente dividido com a eleição de um Congresso ultraconservador. Além de uma nítida tendência de exacerbada radicalização para neste segundo turno – e nos anos que se seguem.

Um apartheid à brasileira.

V.

“Ah, Haddad e Manu foram para o segundo turno.

“É hora da virada!

“À luta, companheiros!

São as expressões que ouço por parte de amigos que, de certa forma, pensam como eu e não querem o retrocesso.

Condenam meu desalento e tentam me animar a combater o bom combate!

Me alinho com eles, pois esta é uma hora em que é fundamental a união e a participação de todos para brecar a ameaça fascista que nos ronda.

Mas, não tenho ilusão.

O Brasil flerta com o atraso, o autoritarismo e o fim da sua jovem democracia.

VI.

Por hoje, faço questão de registrar minha tristeza e decepção.

Amanhã, vai ser outro dia…

 

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