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Celeiro de craques

Tenho certo tempo de estrada no Mundo da Bola. Cinquenta e tantos anos, por aí…

Juro que nunca, nunquinha, vi nada parecido com o que aconteceu nesta terça-feira, data do fechamento da chamada ‘janela’ de transações internacionais para o futebol brasileiro.

Foi um corre-corre danado em busca de supostos reforços para a sequência do campeonato brasileiro.

Cravei ‘supostos’, e explico: um sem números dos contratados sequer eu vi jogar e mal ouvi falar.

Perdi a conta de hermanos, made in Latina América, que aqui aportam cheios de poses e meneios.

II.

Quantos vingarão?

Sinceramente, não sei.

Pela experiência que acompanhei no meu Palestra, que a coisa de três ou quatro anos trouxe, de uma só batelada, quatro argentinos (Alione, Tobio, Cristaldo e Mouche), vou lhes dizer que um ou outro pode dar certo, ter lá seu brilhareco. Os demais ficaram só na figuração, para compor elenco.

Aposto no tal do Nico Lopez que o Inter adquiriu do Udinese, embora estivesse jogando pelo Nacional do Uruguai.

O dimdim foi bem salgado, me conta um amigo repórter em Porto Alegre. Algo em torno de trinta e tantos milhões por três anos, se bem entendi.

III.

Mas, não é isso o que me preocupa. (O dinheiro não é meu.)

O que chama a minha atenção (com este enxame de jogadores meia-bomba) é a carência (para mim inédita) que se vislumbra no futebol brasileiro.

Não há ninguém melhorzinho por aí, não. Nas tais categorias de base, nos falidos clubes do Interior, nos grotões deste Brasilzão de meu Deus?

Antigamente se dizia que o País era um celeiro de craques. Pelo visto, passamos a marca para outros países como Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai e, pasmem, Equador e Venezuela.

Olaiá…

IV.

Se a gente está a fornecer pé-de-obra para centros mais endinheirados – vale para o mercado europeu, vale para outros emergentes como a China – e, na contramão, ‘importamos’ boleiros de segunda linha (ignorados por esses mesmos mercados), imagino que a precarização do futebol nativo logo logo vai bater no fundo do poço – se é que já não anda por lá.

V.

O saudoso amigo Nasci já dizia, lá nos antigamente, que um dos males do futebol é o jogador esforçado, o meia-boca. Com seu futebol vigoroso – e nada criativo – ele joga em todas e, ali de prontidão, acaba por sufocar o aparecimento dos novos e promissores talentos.

Lembram o caso do Gabriel Jesus no início do ano passado? O treineiro Oswaldo Oliveira só o inscreveu no campeonato paulista na última hora, no lugar de Clayton Xavier (a documentação não chegou a tempo). Enquanto isso, a grigaiada tinha lugar garantido na relação.

VI.

Não sei qual a solução para o problema. Passa, desconfio, por uma reestruturação total da CBF, dos clubes e de tudo que envolve esse negócio milionário chamado futebol.

Penso que precisamos atentar para o descalabro. Pois, do jeito que vai, dia há chegar que estaremos ‘importando’ o camisa 10 da seleção brasileira – e achando a coisa mais natural do mundo.