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De Chico a Chiclete 2

V.

Há quem chame os anos 80 de a década perdida em termos culturais. Até o papa vira pop. A MPB, idem.

Configura-se o predomínio do rock a partir da explosão da Blitz logo no início da década. Lulu Santos (com Nélson Motta como parceiro em várias músicas), Legião, Paralamas, Titãs e Cazuza integram o primeiro time dessa geração. Que ainda tem Léo Jaime, Lobão, Marina Lima, Ira e menos cotados.

A década também fica marcada pelos grandes festivais, agora com outro formato. A celebração substitui a competição. Protestos mesmo, só quando a música acaba. Ou quando o pessoal vaia o rock bem-comportado do Kid Abelha e Herbet Viana, de olho na vocalista Paula Toller, manda a ‘galera’ ir pra casa aprender a tocar guitarra. Holywood Rock, Rock in Rio e assemelhados são sempre realizados em estádios com ampla capacidade de lotação.

Importante destacar que, nesse período, quem se consagra como grande nome de vendas é a paulistana Rita Lee. Só que, com um som de letras insinuantes e bem-humoradas. As melodias simples, muitas vezes, trazem o andamento das velhas marchinhas carnavalescas. “Chega Mais”, “Lança Perfume” e todas as outras que ainda hoje as rádios não se cansam de tocar.

No entanto, é a baianidade ou a nordestinidade que põe o esqueleto para requebrar. E para isso talvez seja importante voltarmos aos anos 70.

VI.

Fiz essa meia volta, na verdade, só para dar liga ao texto. Vocês me entenderão, acreditem.

Meus caros, “é ferro na boneca, é no gogó, neném”.

Com essa belezura de filosofia aportaram no sulmaravilha, em fins dos anos 60, três baianos e uma carioca, mas baiana de alma, coração e escambo.

À época, era um terror defrontar-se com Moraes Moreira, Paulinho Boca-de-Cantor, Baby Consuelo e o compositor Moraes, ainda anônimos cantantes das quebradas paulistanas. Eram uma versão tupiniquim da geração hippye, com exageros e desmantelos. Dos cabelos às roupas. Das apresentações quase amadoras à música estridente.

Mas, em termos de balanço e inventividade, os Novos Baianos revelaram-se imbatível a partir do disco Acabou Chorare. Neste trabalho, já com a participação de Pepeu Gomes, Dadi e outros, misturaram chorinho, rock, samba e o que mais pintasse. Foi um estrondo – uma tijolada nos vitrais das obviedades e do conservadorismo.

O sucesso dos Novos Baianos inflou o ego de seus participantes que logo se lançaram em carreira solo. Moraes Moreira foi o primeiro a sair. Baby e Pepeu logo seguiram o mesmo destino, depois de serem proibidos de entrar na Disneylândia para não fazer concorrência com o Mickey e o Pato Donald. Paulinho Boca de Cantor, mais reticente, esperou um tempo, mas também caiu na estrada numa carreira mais modesta. O baixista Dadi foi compor junto com o tecladista Mu e o Armandinho o grupo A Cor do Som.

O guitarrista Armandinho é filho do lendário, fundador do primeiro trio elétrico: O Trio Elétrico de Dodô e Osmar. O disco Muitos Carnavais, de Caetano Veloso (que inclui a agitada “Chuva, Suor e Cerveja”) e hits como “Festa do Interior” (gravada por Gal Costa) e “Pombo Correio”, ambas de Moraes, “Palco” de Gilberto Gil com A Cor do Som, “Masculino Feminino” de Pepeu e “Menino do Rio” (Caetano Veloso) e “Telúrica” com Baby Consuelo e prepararam terreno para o resgate do trio elétrico e do carnaval baiano.

Assim os anos 80 se encerram com a alta do carnaval baiano. E o surgimento dos precursores do axé: Luiz Caldas, Cid Guerreiro e o grupo Asa de Águia.

VII.

A nova década desponta sob a égide do Governo Collor. Da música sertaneja (em 89, Chitãozinho e Xororó realizaram o primeiro show num casa considerada tipicamente classe média em São Paulo, o Olympia) e da lambada (creiam, mas é verdade e dou fé). O principal nome do dito gênero, igualmente dançante, vocês devem lembrar, era o qualquer-coisa Beto Barbosa. Não torçam o nariz, mas a garotada deu de gostar do molejo do cidadão e a lambada, por mais chinfrim que pareça, foi importante para implodir todo e qualquer preconceito quanto aos ritmos do norte e nordeste.

Em 92, a baiana Daniela Mercoury vem a São Paulo caitituar seu primeiro disco e a praga do axé-music se espalha por toda a cidade, estado, País. Aí, o sulmaravilha descobre que existem outras bandas, entre as quais o Chiclete Com Banana…

O resto da história… Bem. Para ser sincero, não sei contar. Mas, aposto, a garotada que me lê sabe de cor e salteado. Põe salteado nisso…