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Eufrázio, o "Da Bahia"

Parte 2

VIII.

O menino entendeu logo do que
a cidade é feita. Pelo menos, ouviu dizer.
E se apoderou do recado.
De fé, trabalho e perseverança.

Sempre foi de fazer suas orações,
mesmo sem freqüentar a igreja.
Acreditava em Deus e se considerava
um homem (um menino!) de fé.

Quanto a tal perseverança,
não sabia exatamente o que significava,
mas com o tempo aprenderia.
Não devia ser bicho de sete cabeças, não.

Restou-lhe, de imediato, o trabalho.

IX.

Pois, foi a luta…

Começou por carregar as sacolas e
os carrinhos das madames que voltavam
da feira-livre. Lavou vidros na farmácia
do seo Nestor — o que lhe garantia até
uns trocados para a matiné do cine Riviera
nas tardes de domingo.

Mais crescidinho foi parar
na cozinha de um restaurante lá
no centro da cidade.

Ajudava no que podia.
Cobria as folgas de quem lhe desse uns tostões.
Era prestativo e atencioso com todos.

X.

Caiu nas graças do patrão que
logo o promoveu a assistente de cozinha.
Uma questão de tempo e virou cozinheiro,
depois garçom (com direito a gorjeta) e maitre.

Por essa época achou conveniente
fazer um curso madureza. O novo cargo
exigia uma certa cultura.

Ademais, a essa altura da sua vida,
estava casado e, como convinha às regras
da cidade, tinha um casal de filhos,
um Fusca e um violão, em que por vezes
matava a saudade da terrinha,
entoando um forrózinho lascado.

Mas, o tempo era pouco.
O trabalho, muito. Sete dias por semana,
sem folga. De domingo a domingo.

Ele agradecia por isso.

— Graças a Deus, à Virgem Imaculada,
aos anjos e a todos os santos. Amém!

XI.

Quando o patrão se cansou da lida,
propôs um trato. Coisa de pai pra filho.

— O "Da Bahia" (apelido com que um dos
fregueses lhe presenteou junto a graúdas
gorjetas) quer ‘tocar’ a Casa?

Em troca, queria uma pensão
mensal — e vitalícia. Nenhum absurdo.

Ele (o patrão) não tinha filhos,
nem mulher (só uma velha conhecida
que visitava de vez em quando,
mais para conversar do que
propriamente para outras finalidades).

— É pegar ou largar?
Mas faço gosto que aceite…

XII.

Pegou. Aceitou. Agradeceu.
A Deus, à Virgem Imaculada, aos anjos
e a todos os santos. E ao patrão,
agora sócio, claro…

Era mais do que justo.
O velho sempre gostou do empenho
com que o "Da Bahia" demonstrou
para tocar o restaurante, como
se ele próprio fosse o dono…

De resto, sabiamente, o velho
nunca confiou em parentes.

— Parente é serpente – dizia com
sorriso de quem já viveu o suficiente
para saber o que está dizendo…

*AMANHÃ TERMINA…