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Helena e o Palestra

— Quatro a dois para o Palmeiras. A Helena é pé quente, pai!

De agasalho verde, dos áureos e bons tempos da Parmalat, o rapaz é pura emoção.

Está acompanhado da esposa e da pequena filha – e fala ao celular com o avô da menina.

Assim que termina a ligação, ele aponta o outro setor das arquibancadas, onde estão as torcidas organizadas:

— Olha, filha, olha… Olha como eles pulam e cantam: Palmeeeeeiras! Palmeeeeeiras!

Indiferente a tudo e a todos, a pequena e graciosa Helena não está nem aí para o que acontece dentro e fora de campo. Com um lenço de papel, brinca de secar as cadeiras vazias que estão ao nosso redor. Uma garoa tipicamente paulistana marcou presença a partir dos últimos minutos do primeiro tempo da partida de ontem entre Palmeiras e Grêmio.

Deu pra molhar, mas não encharcou ninguém.

Sorte da vendedora de capas de plástico que salvou as férias da noite.

Contratada para vender pipoca e refrigerante, a moça levou um estoque de capas por conta e risco.

Mais feliz que ela, só o novo técnico do Palmeiras, o distinto e desconhecido Parraga.

Estrear vencendo o Grêmio, sejam quais forem as circunstâncias, não é para qualquer um.

A instantes do final da partida, com a vitória assegurada, os palmeirenses de todas as idades preparam-se para despedir-se do Estádio Palestra Itália. Daremos adeus ao Jardim Suspenso que fecha para reforma a fim de se transformar na almejada e prometida arena multiuso.

Lembrei-me de que, um dia, lá no mais antigo dos anos, meu pai me levou, pela primeira vez, ao então Parque Antártica. Era um estádio acanhado, com alambrados altos e os jogadores ficavam bem perto da torcida. Jogavam Palmeiras e XV de Piracicaba e um craque esmeraldino, Valdemar Fiume estava se despedindo do futebol. Ganhou até busto em bronze na entrada do clube.

Eu devia ter alguns anos a mais que Helena tem hoje.

Meu sonho era ter um chute tão forte quanto o de Ênio Andrade, o camisa 10 do Palmeiras.

O pai dizia que o craque do time era o Mazzola. Mas, nem lembro se ele jogou naquele dia.

O juiz apita o fim de jogo – e todos aplaudem.

Fazem uma reverência ao Velho Palestra.

Helena já está no colo do pai. E aplaude também. Está tão feliz que não se contém:

— E agora, pai, vamos cantar parabéns?

** FOTO NO BLOG: Viena (arquivo pessoal)