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Horas depois da tragédia…

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*Texto publicado horas depois da tragédia da Chapecoense, em 29/11/2016.

Tchinim sempre foi um garoto esperto, como dizia o Cido, um carioca que morava nas quebradas da rua Mazzini, lá no Cambuci. Só porque o menino adorava acompanhar o pai nas noites de domingo no Bar Astória, na esquina da rua Lavapés.

Era ali que a italianada se reunia para se divertir.

– Vamos festar! – definia o Seu Júlio, o relojoeiro do bairro.

Traduzindo: a turma jogava Patrão e Sotto, enchia a cara de cerveja, cantava, conversava e principalmente lembrava lugares, pessoas e breves histórias dos tempos da Itália.

(…)

Tchinim aproveitava ser a única criança presente. Era o mascote da turma. Tinha passe-livre para tomar quantos ‘caçulinhas’ aguentasse, além de encher o bolso de balas Toffes que grudavam nos dentes, mas eram deliciosas de tão docinhas e caramelizadas.

Só havia um senão que o deixava contrariado: quando os belos cismavam de recordar de um time de futebol que morreu em um desastre de avião em 1949 – um antes dele (Tchinim) nascer.

Os italianos – inclusive o pai, que tinha um cartão com a fotografia do tal de Torino em uma das gavetas do criado mudo – começavam entusiasmados, falando dos feitos e das glórias dos campeões. Que o time era a própria seleção italiana. Que vestia a camisa mais linda do mundo, na cor grená. Que nunca houve equipe tão poderosa. Que o melhor jogador era o Mazzola, incomparável. Nem os nossos Leônidas da Silva ou o Zizinho ou Jair da Rosa Pinto lhe faziam frente.

Alguns deles diziam ter assistido às exibições dos craques quando estiveram excursionando pela América do Sul e se exibiram em São Paulo e no Rio.

O único time que os venceu foi o Corinthians porque “a rapaziada já estava enfastiada de golear quem os enfrentava”. Para a turma do Astória, eram verdadeiros deuses da bola. Pentacampeão italiano.

(…)

Até que veio aquela fatalidade… Voltavam de um amistoso contra o Benfica, de Portugal, quando o avião que trazia o time todo colidiu com a torre de uma basílica e…

Bem, nessa altura, todos os ítalo-brasileiros estavam consternados e choravam feitos crianças.

– Difícil entender o porquê?

Na singeleza de seus 5 ou 6 anos, quem nada entendia era o próprio Tchinim. Como os adultos conseguiam passar da alegria para a tristeza em poucos minutos?

(…)

Desconfio que, hoje, o Tchinim não deve atender por este apelido dos tempos de criança. É um circunspecto senhor e, seguramente, está tão triste como os amigos do saudoso pai.

Há tristezas que são por demais profundas – e inexplicáveis.

Sabe, porém, que heróis verdadeiros a gente nunca esquece.

(…)

Um ano depois…

Reitero minha total solidariedade à Família Chapecoense. Minhas orações a todos que se foram nessa tragédia. Que Deus dê forças aos familiares e amigos.

O Brasil está de luto!

Foi – e ainda é – uma das páginas mais tristes da história do Planeta Bola!

(*foto: beto parada/site ‘fotos públicas’)

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