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Lembrar e não esquecer, 3

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Foto: Arquivo Pessoal

Em 2016, o compositor Chico Buarque  se propôs cancelar, judicialmente , se preciso fosse, a permissão que deu, anos atrás, à TV Cultura para que uma de suas mais emblemáticas canções fosse tema de abertura do programa Roda Viva, tradicional atração da emissora nas noites de segunda-feira.

Motivo: Chico e os que hoje comandam o Roda Viva têm concepções ideológicas opostas – e o convescote da noite de segunda, quando Michel Temer foi o entrevistado por uma turma de invertebrados jornalistas, teria sido a gota d’água (para usar o título de outra obra do autor) para que se desenvolvesse nas redes sociais uma campanha com a finalidade de não macular a música com os novos e duvidosos interesses do programa.

Faz todo o sentido.

Hoje o convidado do Roda de Amigos é o ministro Sérgio Moro.

Eu era rapazola de tudo (tinha 17 anos) quando Chico nos surpreendeu com os versos tristes de Roda Viva no histórico festival de 1967. A música retrata aquele momento de sufoco que vivia a sociedade brasileira mercê de uma ditadura cruel e desumana, prestes a se escancarar com o AI-5, baixado em dezembro do ano seguinte.

Já o Roda-Viva, programa de TV, aparece na esteira do processo de redemocratização do País. Lá pelos anos 80 quando se consolidaram avanços consideráveis como a anistia (77), as greves do ABC (de 78 em diante), o fim da censura (79) e a retomada das eleições gerais (82).

Foi um momento bom, de semeadura da maior mobilização social que este País já assistiu: as Diretas Já, em 84.

Naquele contexto, o jornalismo livre e independente ganhou espaço na programação das TVs, e não apenas no formato de telejornais.

Os programas de entrevistas no fim de noite se tornaram ponto de discussão e de interesse. São deste período títulos como o próprio Roda Viva, o Canal Livre, o Crítica & Autocrítica e o insuperável Jogo de Carta, com Mino Carta, entre outros.

Todos apresentavam um formato de mesa-redonda, de debates acalorados que pautavam as primeiras páginas dos jornais do dia seguinte. Eram polêmicos e esclarecedores.

Após o Golpe de 2016, o ilegítimo presidente Michel Temer foi ao programa. Uma das perguntas do convescote do convescote entre amigos passada foi:

– Temer, como você conheceu a Marcela?

Aí não dá, né?

Melhor ter como trilha um bolerão daqueles bem rasgado.

Ou aquela outra canção de Chico Buarque, se é que o autor me permite:

 

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