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Lorotas

Éramos jovens e inconseqüentes.

Por isso, não tínhamos o menor pudor em fazer daquele “Sujinho” onde o Sacomã torce o rabo a nossa segunda casa.

Quem quisesse nos encontrar não vacilava um instante sequer.

Ou nos procurava na velha Redação de piso assoalhado da rua Bom Pastor ou na esquina da mesma Bom Pastor com a rua Greenfeld, o boteco-reino-e-lugar do Mestre dos Mestres, o amigo Nasci.

Se não estivéssemos nesses pontos, nem adiantaria tentar nos localizar. Pois não queríamos ser encontrados.

Acontece que, em frente ao Sujinho, ficava o escritório político, vulgo comitê de campanha, do vereador Almir Guimarães.

Uma boa desculpa para nós esticarmos ainda mais as idas-e-vindas.

Eram cada vez mais freqüentes as idas e cada vez mais demoradas as vindas.

Os demais funcionários – vale esclarecer que os jornais tem outros departamentos além das redações – não gostavam nada nada da nossa liberdade de ir e vir. Que eles, maldosamente, definiam como “vagabundagem explícita”.

— Mas, esse pessoal da Redação é folgado mesmo!!!

De tanto ouvir essa aleivosia, um dos nossos, o Made, Waldemar Roberto Coppini, que hoje é nome de passarela no km 10 da via Anchieta preparou a vingança.

Espalhou à boca pequena que, na verdade, eu e ele estávamos trabalhando na campanha do vereador pela bagatela de 60 mil mensais.

Inventou mais.

Que o parlamentar estava precisando de mais gente no front.

E os salários – ah!, os salários – eram arrebatadores.

Pura balalela.

Que deu o resultado esperado…

Cessou o falatório. De olhares atravessados, quando saíamos passamos a receber generosos cumprimentos e saudações.

— Olá… Tudo bem?

— Dê lembranças ao vereador. Falem que somos seus eleitores…

— Bom trabalho!

— Vocês voltam ainda hoje?

O mais impressionante era o número de pessoas que passou a ser assíduo do “Sujinho”, sempre na expectativa de que o vereador aparecesse por lá.

Até que um dia o filho de uma das funcionárias – entre as que mais nos criticavam – não suportou a vã espera. Atravessou a rua, e escancarou para a recepcionista do Escritório Político:

— É aqui que estão distribuindo emprego de 60 mil reais?

Lembrei dessa história de tanto que ouço falar da tal mala branca que anda assolando os recentes jogos do Brasileirão. Parece que os times estão nadando em dinheiro. Domingo foi a vez de o zagueiro Ronaldo Angelin denunciar que o São Paulo “bancou” 300 mil para os jogadores do Goiás endurecerem a partida contra o Flamengo.

Não sei não.

Parece-me pouco provável.

Sempre que há uma boataria deste porte identifico logo duas situações: a dos que gostam de inventar uma boa lorota e a dos que querem tirar proveito dela.

FOTO NO BLOG: Jô Rabelo