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No sebo perto de casa…

Aproveito a manha ensolarada para saber das novidades de um sebo perto de casa.

Há tempos não o visitava.

Não é um desses estabelecimentos grandiosos, mas por vezes são nesses pequenos locais que se faz a grande descoberta. Foi ali, por exemplo, que encontrei um exemplar de Grãos de Mostarda, do cronista Humberto Campos, editado por W.M.Jackson Inc (Editores). Não consegui localizar o ano da publicação, mas é bem antiguinho.

Os proprietários já me conhecem – e são sempre simpáticos, e solícitos.

II.

Logo que entrei, eu os percebi calados, com o semblante de preocupação. Que tentaram disfarçar ao me ver entrar cheio das intensões.

Perguntaram-me sobre a vendagem dos meus livros – e eu lhes respondi com um balançar de cabeça.

— Assim, assim, disse em seguida.

(O que significa pouco ou quase nada.).

III.

A proprietária tentou esticar o assunto.

“O senhor precisa escrever sobre vampiros – é o que essa meninada procura. Crônicas e contos, ninguém procura”.

Sorri agradecido pelo conselho. Logo me imaginei escrevendo uma história surreal, misturando dentuços, morcegos, capas esvoaçantes com forro vermelho, caixões seculares, cadáveres insepultos, cemitérios e princesas lívidas e virginais.

– Não é minha praia, respondi. – Ou melhor, minha cripta.

Tirante as princesas lívidas e virginais, nada daquela listagem me interessa.
IV.

Não sei o que lhe passou pela cabeça – ou se foi meu olhar superficial pelas prateleiras atopetadas de edições – mas, a moça resolveu desabafar:

“Para ser sincera, atualmente nem os vampiros salvam. Não estamos vendendo nada. O País parou por causa da Copa. Pode perguntar para qualquer comerciante que não tenha seu negócio ligado às coisas da Copa ou não seja artigo de primeira necessidade. Estamos todos preocupados e esperando pelo fim dessa loucura”.

Não havia botado reparo na coisa toda. Mas, parece fazer sentido. A Copa está “vampirizando” a Economia. Basta ver os anúncios na TV. Todos querem tirar uma casquinha temática, linkar a imagem do seu negócio ao futebol.

Entendo que a fala da proprietária traz embutida uma pressão para que eu não saia de mãos abanando dali. Escolho dois títulos do Veríssimo que ainda não possuo, uma edição dos anos 70 de “Antes do Baile Verde” de Lygia Fagundes Telles e A Mulher Que Escreveu a Bíblia de Moacyr Scliar e sigo para o caixa.

V.

À saída ainda há tempo para ver o ar de alívio no rosto dos meus interlocutores e ter um reencontro inesperado. Vejo esquecido numa das últimas prateleiras um exemplar do meu primeiro livro (Às Margens Plácidas do Ipiranga, lançado em 1997).

Com carinho e alguma curiosidade, folheio as primeiras páginas e lá encontro a dedicatória que fiz a um querido amigo.

Só agora – tanto tempo depois – descubro que a recíproca não era tão verdadeira assim…