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O sacro ofício do povo brasileiro

01. Vamos continuar nossa conversa de sempre. As coisas não vão bem neste pedaço de chão chamado Ipiranga, e de resto, parece-me, andam destrambelhadas mundo afora. Estoura um novo escandalo aqui, a OTAN erra outro alvo ali. O Governo reluz e brilha, anuncia deflação e novas viagens do presidente. A impunidade grassa solta, e daí? O mês espichou ou o salário que encolheu? Outro assalto na esquina, era um garoto… O medo nas escolas. A bala perdida. Uma conversão proibida mata um grande brasileiro, Dias Gomes.

02. Todas as manhãs de quinta-feira renovo minhas esperanças de construir um mundo melhor a partir deste nosso habitual encontro. Todas as manhãs de quinta-feira, assim que começo a roteirizar os assuntos da semana para dar forma e conteúdo ao texto, assalta-me a dúvida. Será que não vou lhe estragar a sexta-feira e, sabe-se lá, todo o final de semana revivendo fatos que, de forma alguma, mostram-se indicadores de novos tempos? Não seria mais proveitoso que ocupasse o espaço para temas mais amenos, informações mais lights que não o atormentassem e onde todos nós pudessemos um fio de luz e de esperança. Há muitos projetos sociais em andamento, com voluntários e a abnegada determinação de minimizar os males do próximo — não tantos quantos são necessários, mas que existem, existem… Aplausos para tais iniciativas, pois. Mas, a função jornalística acaba invariavelmente me levando para o lado obscuro dos fatos…

03. Se me permite, caro leitor, vou tentar explicar esse viés. É que de uns tempos para cá, aprendi a não temer a felicidade como expressão de vida. O que não significa dizer que não sei reconhecer as dificuldades, os conflitos, as injustiças, os erros pessoais (especialmente os nossos) que existem e que temos de enfrentar a cada nova manhã. E, graças a Deus, estamos vivos e aptos para o embate e, repito, mais apto ainda para o exercício da felicidade. Dá trabalho ser feliz, claro. Mas, não se deve temer tal desafio, pois como diz a canção djavaneana isso pra mim é viver.

04. Penso que o brasileiro tem por natureza a vocação para se feliz. Mas, talvez, tenha medo de vivenciá-la plenamente, perenemente… E lá, do fundo, bem fundo d’alma, vem a desconfortável sensação de que não se merece tanto. Quem nunca olhou ao redor e, ao se deparar com tamanha miséria, não achou injusto o momento de alegria que eventualmente estava vivendo? Repare que não foi à toa que se consagrou pelo uso popular a expressão é bom demais para ser verdade.

05. Claro que essa almejada utopia chamada felicidade é tarefa árdua. Mas, se não tratarmos de lutar por ela desde já, ninguém o fará por nós, creia. O argumento vale tanto para o âmbito pessoal como para o social. Há pouco aprendi, por acaso, o significado da palavra sacrifício que sempre imaginei fosse sinônimo de problema, dor, jejum… Quer dizer sacro ofício. Vamos, pois, nos permitir. Mago não é quem quer, mago é quem se dá ao trabalho…

06. E trabalho aqui não significa só o exercício de uma profissão, até porque o desemprego hoje está altíssimo. Significa topar os desafios. Ler, estudar, informar-se de tudo o que puder e quiser, participar de lutas por causas públicas, denunciar, criticar, evoluir, cobrar, crescer, acreditar no sonho, fazer-se melhor e, principalmente, na hora do voto, não vacilar. Votar conscientemente… É por aí que se expressa a cidadania. É por aí, imagino, que se constrói um mundo melhor.

07. Desculpe, caro leitor, se hoje não falei em FHC, Mallan, Pitta, ACM, Maluf & Cia circense. Está na hora da gente dar mais valor ao que eles fazem do que ao que falam. Como nada fazem, nada há para se escrever sobre eles… A desesperança no rosto da nossa gente e a lágrima no rosto daquela moça que ia para o trabalho são as causas da minha indignação…