Dominguinhos era a simplicidade em pessoa.
Um jeito humilde de ser e compor e tocar e cantar e viver, próprio aos grandes artistas.
Eu o entrevistei várias vezes ao longo da minha carreira de repórter na área de Cultura.
Um privilégio que guardo, no coração, com uma baita saudade.
Assim que ele chegou à RCA para gravar um disco solo, embalado no sucesso de “Eu só Quero Um Xodó”, de sua autoria, consagrado na interpretação de Gilberto Gil, o amigo e assessor de imprensa, Artúlio Reis, chamou a mim e a outros jornalistas para conhecermos o sanfoneiro nas dependências da gravadora, então instalada na rua Dona Veridiana.
O encontro era para que conhecêssemos o artista e sua obra.
Só que Dominguinhos danou-se a falar do padrinho Luiz Gonzaga, do quanto o Rei do Baião foi importante para sua vida, que isso, que aquilo, que aquil’outro. Era uma honra ser escolhido pelo próprio Gonzaga como herdeiro de seu legado.
Foi assim quase o tempo todo.
Pois no segundo momento ele elogiou a jovem Elba Ramalho, uma cantora nordestina em início de carreira e futuro promissor.
– Vai até gravar uma musiquinha minha e do Nando (Cordel).
A ‘musiquinha’ era só “De Volta Pro Aconchego”.
E, em seguida, derreteu-se de amor à Guadalupe, também cantora, com quem estava casado à época. Informou que ela também estava em negociações com a RCA para fazer um disco a ser lançado breve, breve.
Artúlio fez sinal de que já havia esgotado o nosso tempo. A entrevista estava prestes a se encerrar. Mesmo assim, um dos repórteres insistiu em mais uma pergunta, a saideira:
— Mas, e você, Dominguinhos? Fale de você, do novo disco?
A resposta foi a mais previsível, e despojada. Essencial, eu diria.
— Eu sou apenas um sanfoneiro.