Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

O Velho Guerreiro

Saio ainda emocionado – e algo confuso – do Teatro Alfa, onde na tarde de sábado assisti ao espetáculo “Chacrinha, O Musical”. É bem melhor do que este modesto escriba – e sobrevivente daqueles tempos da Discoteca, da Buzina e do cassino– poderia imaginar.

Acompanhei a trajetória do Velho Guerreiro à distância; primeiro, como telespectador (não tão frequente, mas interessado); depois, como repórter na área de Variedades (cheguei a entrevistá-lo nos tempos em andou pela TV Bandeirantes e buscava divulgar o programa em todos os jornais paulistanos).

http://www.rodolfomartino.com.br/artigo.php?id_artigo=1393

Não imaginava, no entanto, o quanto de mim seria redivivo naquelas duas horas e tantos de musical: as canções que embalavam o garoto de vinte e poucos anos, a alegria anárquica de um auditório ululante, o samba do Gil (“Aquele Abraço”), as chacretes… Ah, as chacretes.

Não sei explicar.

Mas a personagem contraditória, tragicômica, de Chacrinha balançando a pança tem muito a ver com todas as incoerências daquele tempo nebuloso. No fundo, no fundo, Chacrinha só queria nos encantar e fazer com que entendêssemos que, brasileiramente, o show tinha que continuar. E éramos, sim, os protagonistas de um
País único, miscigenado e desbundante.

“Alô, alô…
Terezinhaaaaaaaaa!!!
Uhuhuh…”

II.

Falei que me vi ali, digamos que aos pedaços, porque passei o tempo maravilhado entre a cena que via no palco e as recordações de um tempo vivido, com todas as controvérsias e as realizações que eram permitidas. Ou não.

Corria uma página infeliz da nossa história. Vivíamos em pleno regime ditatorial, mas desconfio: nunca se sonhou tanto quanto naqueles dias. Havia a crença de que era possível a construção de um País de todos os brasileiros.

Não me perguntem como, mas era assim.

“Eu vim para confundir
Não para explicar.”

III.

A trilha sonora é um capítulo à parte.

Faz com que a plateia exploda de alegria com os hits que a Discoteca do homem consagrou. Chega ao delírio quando o cover de Gonzaguinha entra no palco entoando o célebre refrão:

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz.”

Raramente vi tamanha cumplicidade do público ao manifestar-se em coro de forma tão verdadeira, tão mágica.

Talvez porque, nos dias de hoje, andamos mais envergonhados do que feliz, apesar de tantos avanços, de tanta tecnologia, de tanta modernidade, de tanto politicamente correto, de tantos sonhos desfeitos.

Se puder, não deixe de ver.

“Quem não se comunica
Se estrumbica.”