Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

Relatos sobre as eleições em Sampa

Minha amiga e assídua leitora Doris não vai gostar do que hoje aqui vou escrever.

Ela curte mais quando o texto cai para o lado mais romântico, fale de amores que seriam possíveis, mas se tornaram eternos. Essas coisas todas que, a bem da verdade, também adoro ler e imaginar histórias que transformo em posts/crônicas.

Hoje, porém, dado ao adiantado da hora eleitoral, me vejo incitado a meter meu bedelho no pleito municipal que ocorre domingo em todo Brasil, e especialmente em São Paulo, cidade onde não moro, mas voto…

Explico o porquê.

Um tanto por que como jornalista acompanhei eleições memoráveis a partir de 1982, quando Franco Montoro se elegeu governador de São Paulo. Dizem que o uso do cachimbo deixa a boca torta, pois então…

Difícil para um repórter vira-lata, como o que fui e sempre serei, não dar pitacos nessa hora.

Depois por que é evidente a relevância da escolha o paulistano para que se prospecte os caminhos do País nos próximos anos. Meu saudoso pai, o Velho Aldo, dizia que sempre foi assim. E era inevitável que lembrasse das querelas Adhemar de Barros versus Jânio da Silva Quadros.

Eu, particularmente, vivo essa realidade desde 1985, quando o Brasil consolidava o processo de redemocratização – e, para surpresa geral, o então senador Fernando Henrique, candidatíssimo das forças progressistas, foi surrado nas urnas por Jânio Quadros que reaparecia no cenário político nacional, calcado na mais retrógrada das alianças. Que incluía políticas e políticos de um passado remoto, além de outros nomes que notoriamente serviram à ditadura.

A conseqüência dessa derrocada é que, não demorou, para que o então presidente José Sarney fizesse uma reforma ministerial, com um perfil muito mais à direita. Que se consagrou pelo uso de uma citação bíblica, popularizada pelo então deputado Roberto Cardoso Alves, que virou ministro da Indústria e Comércio em 88.

A frase definiu bem o que foi esse período:

— É dando que se recebe.

É DANDO QUE SE RECEBE

A eleição de hoje não é diferente.

De olho no cenário de 2010, continua o "é dando que se recebe."

Ao que demonstram as pesquisas de ontem, Marta e Kassab seguem impávidos para o segundo turno. O que por si só revela a vitória de seus dois padrinhos políticos, senhores virtuais do próximo pleito: o presidente Lula e o governador José Serra.

Para a galera das arquibancadas, o presidente – queiramos ou não, um hábil estrategista – acena com a candidatura da ministra Dilma Roussef. Mas, há quem veja uma possibilidade de um outro nome, visto que a ministra já vem sendo exposta aos leões da mídia há um largo tempo.

Como no PT não há nomes representativos para sucedê-la, esses mesmos analistas da cena política não descartam a chance de Lula cooptar nomes de outros partidos – e não importa se façam parte hoje da aliança governista. Uma conversa com Cristóvão Buarque, do PDT, aconteceu por esses dias no Planalto. Lula pediu que se juntassem forças para eleição de Dilma e ouviu que o próprio Buarque é candidatíssimo a sucede-lo, se o partido assim o quiser.

Foi só um primeiro contato. Mas, o diálogo está em aberto. Outros nomes sempre citados são os de Ciro Gomes (PPS) e Aécio Neves que, mineiramente, conseguiu costurar uma inimaginável aliança com o PT nas eleições municipais de Belo Horizonte.

É bom que se registre nenhum dos candidatos acima é o nome dos sonhos do partido do presidente e do próprio presidente que, do alto de seus bons índices de popularidade, não se imagina apear do poder tão cedo.

Desde já, fala-se em Lula lá em 2014…

Do lado tucano, o troco de José Serra às artimanhas que lhe tiraram da candidatura presidencial em 2006 se configura agora se Kassab confirmar nas urnas o que as pesquisas apontam. Deixa Geraldo Alckmin sem espaço no PSDB paulista, inclusive para tentar voltar ao Governo do Estado em 2010. Importante perceber como os próceres tucanos – entre os quais, o ex-presidente Fernando Henrique – o deixaram à deriva nesta campanha. Se Alckimin não for para o segundo turno, a fama de desagregador vai lhe valer vôos mais modestos no futuro mais próximo. Pode tentar o senado em 2010 ou mesmo a Câmara Federal, onde já esteve por duas legislações antes de receber as bênçãos de Mário Covas que concorria ao Governo do Estado em 94.

Alckimin pode até deixar o partido, dizem. O que particularmente eu duvido. PSDB continuará rachado, mas parecerá mais que unido aos olhos do público. Tudo para fazer Serra presidente em 2010 e não perder o trem da História como uma das duas grandes agremiações políticas do País.

RESCALDO…

… das urnas em São Paulo:

•Impossível dissociar a eleição na cidade de São Paulo do pleito presidencial de 2010.

•Há um grande vencedor e as urnas não deixaram dúvidas. Gilberto Kassab, o atual prefeito surpreendeu e é favorito para se reeleger nessa reta de chegada.

•Fácil identificar que a TV foi determinante para que Kassab se consolidasse como uma candidatura viável – e, até certo ponto, renovadora. Partiu de índices modestos que o colocavam em terceiro lugar e atropelou forte no final. Está em alta, e ainda parece ter fôlego para o segundo rounde.

•O eleitorado de São Paulo adora um “ismo” – e não é de hoje. Adhemarismo, janismo, malufismo. Talvez o kassabismo seja o novo fenômeno que indica uma certa tendência à direita e ao centro.

•A partir daí – e da pífia votação que Maluf recebeu ontem – não é exagero dizer que Kassab passa a ser nome forte deste segmento mais conservador do eleitorado paulistano, com ramificações por todo o País.

•À distância, é possível constatar outros dois vencedores: o presidente Lula e o governador José Serra. Seus candidatos – Marta e Kassab – foram para o segundo turno.

•Projeta-se, então, uma disputa presidencial em 2010 a partir desses dois nomes.

•Serra, candidatíssimo pelo PSDB; aliás como deveria ter acontecido em 2006.

•Não um sucessor dentro das lides petistas para Lula, o que só açoda a gula de eventuais candidatos a candidatos.

•A tese do terceiro mandato foi mesmo para as cucuias, salvo mudança repentina nos ventos.

•De qualquer forma, Lula aparece hoje como mentor eleitoral do eventual candidato da situação; preferencialmente saído da legenda do PT.

•Hoje. é notória a preferência de Lula pela ministra Dilma Roussef para sucedê-lo, mas há graves restrições ao seu nome entre os aliados governistas – especialmente dentro do PT.

•Há quem veja possibilidades claras de aliança no futuro. Não se deve subestimar os nomes de Ciro Gomes e Aécio Neves entre os cotados.

•Difícil para o PT será entregar os anéis.

•Em ocasiões anteriores, perdeu os dedos mas não se abriu para conversas.

•De resto, o vereador mais votado de São Paulo foi o ex-secretário de Educação, Gabriel Chalita, do PSDB, com mais de 100 mil votos. O pagodeiro Netinho de Paula, aquele, foi o terceiro mais votado, aproximados 85 mil votos. Netinho saiu pelo PC do B e sua expressiva votação abriu vaga para mais três nomes do Partidão.

FURACÃO ERUNDINA

O furacão “Erundina” varreu as urnas na eleição municipal de 88. O pleito se realizava em apenas um turno. O vencedor levava. Foi a primeira vitória expressiva do Partido dos Trabalhadores – e, de certa forma, referendou e alçou ao patamar de realidade a candidatura Lula para presidente no ano seguinte sem mais jurumelas.

A esquerda tinha nomes fortes, então. Um leque que se abria com Mário Covas, tinha Ulysses Guimarães e passava pelo então imbatível governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Havia também Roberto Freire, pela histórica sigla do PCB.

O metalúrgico e líder sindical corria por fora. Os campeões de votos – e maiores ameaças ao sistema – eram Ulysses, o então Sr. Diretas, e o incendiário Leonel Brizola. Brizola que, em seus longos discursos à la Fidel, dizia que o primeiro ato de seu governo seria “acabar com o monopólio da Rede Globo”.

Nunca é demais lembrar que, para vencer e se tornar prefeita em 88, Erundina derrotou Paulo Maluf (PDS), José Serra (PSDB) e João Leiva, do PMDB quercista.

A partir de então, e com o respaldo do maior colégio eleitoral do País, a militância do PT foi às ruas acreditando que o sonho era possível…

É certo que havia “um fio desencapado” chamado Collor no meio do caminho.

Mas esta é uma outra história de eleições que fica para uma próxima vez…

A RECAÍDA
Em 1992, São Paulo teve uma recaída e elegeu Paulo Maluf como prefeito.

Há quem aponte como causa os inequívocos altos e baixos da gestão Erundina que começou oscilante – até por desconhecimento da máquina administrativa – mas depois se recuperou.

E há ainda quem considere, desde sempre, insondáveis os desígnios do eleitorado paulistano sempre pronto a aprontar das suas. Nos idos de 60, antes da Redentora, um rinoceronte que acabara de aportar no zôo, apelidado de Cacareco, foi o mais votado nas urnas paulistanas. As cédulas de papel permitiam esses destemperos…

Naquele pleito de 92, no entanto, outra tradição se fez valer. A de votar na Oposição.

Em 85, o prefeito era Mário Covas, do então PMDB. Elegeu-se Jânio Quadros, do PTB. Três anos depois (Jânio teve um mandato mais curto para coincidir o calendário eleitoral), Erundina desconsertou a todos com sua eleição, pelo emergente Partido dos Trabalhadores (PT). Agora, em 92, a volta dos que não foram. Veio o troco e deu Maluf com mais de 2 milhões de votos.

Desnecessário dizer, mas digo: Maluf governou no velho estilo.Entre a denúncia de um escândalo e outro, a inauguração de obras faraônicas – túneis, viadutos, cingapuras.

O paulistano, naquele primeiro momento, gostou.

Os índices de popularidade de Maluf subiram aos píncaros da glória.

Como conseqüência, o sonho presidencial voltou a inebriar os corações e as mentes das lides malufistas. Antes, porém, o homem precisaria fazer o seu sucessor na Municipalidade paulistana.

Adivinhem de quem vamos falar no próximo capítulo?

[*Só para constar: nesta eleição, Maluf não foi além dos 370 mil votos. Sinais dos tempos…]

O TSUNAMI
Tal qual um mágico ilusionista, Maluf tirou da cartola o nome de Celso Pitta para concorrer às eleições municipais de 1996 em São Paulo. Duas correntes do malufismo digladiavam-se para receber as bênçãos do poderoso chefão. Eram lideradas por dois chefes políticos representativos no clã, Salim Curiati e Calim Eid.

Em 98, o chefão Maluf voaria para os Bandeirantes ou para o Planalto.

Quem herdaria a cidade?

Para não desgostar nenhum deles – e não ver o malufismo rachado –, a solução foi o PPS indicar o ex-funcionário das empresas da Família Maluf e que, nos últimos anos, respondera pela Secretaria Municipal das Finanças.

A seu favor, Celso Pitta tinha alguns pontos. Era um novo nome no cenário político. Estudara em Londres, tinha gestos contidos e fala pausada. Era um negro bem-sucedido, o que, além de quebrar uma série de estigmas sociais, poderia trazer às lides malufistas uma simpatia das chamadas minorias.

Desde a célebre – e infeliz – frase “Estupra, mas não mata”, Maluf aumentara sua péssima fama e a fama de intolerante.

A verdade é que, mesmo com todo esse cabedal, o afilhado não fazia jus aos índices de popularidade do chefão. A candidatura Pitta não decolava – as pesquisas o colocavam atrás dos candidatos Luiza Erundina (PT) e José Serra (PSDB).

Suas chances eram remotas…

Até que entrou em cena um brinquedinho publicitário que se denominou Fura Fila.

Foi a vez do marketing político brincar de ilusionismo na TV.

Exibida à exaustão no horário gratuito eleitoral, a animação de um ônibus a cortar o trânsito e ligar a cidade de um ponto a outro encantou os espectadores/eleitores. Mais ou menos nos moldes das Organizações Tabajara, o brinquedinho anunciava algo como: “seus problemas acabaram”.

Oportunamente, aproveitou-se o tampão sobre o rio Tamanduateí para “comprovar” que a obra inclusive estava em andamento. E foi na base do “me engana que eu gosto” que o paulistano foi às urnas e transformou Celso Pitta em prefeito de São Paulo.

Ele derrotou Erundina no segundo turno – e os mais sensatos já anteviam: era inevitável o tsunami que arrasaria a segunda maior cidade do hemisfério sul…

CRIADOR E CRIATURA
Não durou muito a harmoniosa convivência entre criador e criatura pelos corredores e salas da Prefeitura paulistana. Tão logo se assenhoreou do cargo, Celso Pitta, tratou de desmontar o staff de correligionários de Maluf que ocupavam secretarias, subprefeituras e outros postos chaves da administração municipal.

Não estava combinado assim.

Mas, assim foi…

Aliás, como já ocorrera tantas outras vezes na vida e, principalmente, na política. Era ainda recente o litígio entre Orestes Quércia e Luiz Antônio Fleury Filho que o sucedeu como governador de São Paulo em 1990. De um secretário desconhecido, Fleury foi alçado ao Palácio dos Bandeirantes pelas bênçãos e máquina do chefe. Meses depois – será que chegou a tanto? – estavam rompidos.

Pitta repetia a história.

A cada dia sentia-se mais à vontade para trocar assessores e secretários e montar uma equipe própria. Que, de resto, não inspirava confiança em ninguém.

Começou, então, uma luta pela sobrevivência dentro da própria Prefeitura que se espalhou entre os diversos escalões. De alguma forma, consagrou-se entre os malufistas empregados na Municipalidade a célebre frase:

Quem não foi ou é ou será… desempregado.

Para deixar a situação mais instável, os demitidos saíam botando a boca no trombone. Deu-se uma enxurrada de denúncias de esquemas que funcionavam em sob o toldo da Prefeitura. Instalou-se o caos na administração pública. Máfia dos Camelôs. Máfia das Regionais. Vereador situacionista preso por levar ‘bola’. Escândalos nas secretarias.
Mas a grande bomba estava por explodir…

Foi a vez da esposa do prefeito, Nicéia Pitta, ir ao Globo Repórter e desancar o marido e suas tramóias como alcaide paulistano.

Pitta foi ameaçado de impeachment. Chegou a deixar o cargo por uma ação da Justiça – assumiu o vice Régis de Oliveira, que uma semana de glória –, mas foi logo reconduzido também por decisão judicial.

Ele conseguiu terminar o mandato e as pendências até hoje se arrastam nos tribunais.

Para a cidade, o estrago foi descomunal.

A PROMESSA

Retomo hoje a seqüência da breve história das eleições para prefeito da cidade de São Paulo. Retomo, na verdade, por dois bons motivos. Primeiro, pela repercussão do debate de ontem na TV Bandeirantes. Ao que parece, esquentaram os tamborins de acusações e ataques mais frontais. Até o mediador, o jornalista Boris Casoy, saiu algo temeroso com a reação dos candidatos e da platéia, que se manifestou várias vezes. “Pensei que a coisa toda fosse degringolar a qualquer momento”, disse após o programa. Segundo, porque é incontrolável a vontade de meter minha colher de pau nesse angu de caroço. De resto, estamos aí. Já que comecei com a série não há como parar na metade.

No texto de sexta passada, paramos nas conseqüências nefastas da gestão Pitta em São Paulo. A definição que se consagrou – e que ontem surgiu muitas vezes no debate – foi a de que a Prefeitura paulistana se transformou em “terra arrasada”. Marta usou a expressão para definir como recebeu a Prefeitura de Pitta e Kassab disse o mesmo para definir como ele e o atual governador José Serra receberam a Municipalidade das mãos de Marta.

Desconfio que Marta tem mais de razão do que Kassab. Mas, enfim…

No imbroglio Maluf/Pitta, há quem veja – por mais incrível que pareça – um ponto positivo. É que durante a campanha para Prefeitura paulistana de 1996, Maluf apareceu, várias vezes no horário eleitoral, referendando a candidatura do afilhado Celso Pitta:

— Se Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim.

Lembram da promessa? Os paulistanos, ao que tudo indica, acreditaram piamente. Ano a ano, mingua a votação de Paulo Maluf. Depois disso, o político se candidatou para cargos no Executivo cinco vezes – três para prefeito e duas para governador – e perdeu todas. Só se elegeu em 2006 para deputado federal porque alguns insistem em promover assuntos para o CQC…

AS TAIS PERGUNTAS
A campanha eleitoral em São Paulo esquentou nos últimos dias. Um tanto em função do debate entre os candidatos que se realizou na noite de domingo na TV Bandeirantes. Outro tanto pela insidiosa inserção publicitária que os marqueteiros de Marta Suplicy bolaram para o horário eleitoral:

— Você sabe se Kassab é casado? Se tem filhos?

São as perguntas que o anúncio propõe – e que os analistas políticos e a mídia consideraram uma desrespeitosa invasão de privacidade à vida pessoal do candidato do Dem. O próprio senador Eduardo Suplicy disse que aconselharia a candidata do PT a não veicular mais essa peça.

Suplicy é mesmo um grande cara.

Também acho que não é por aí que se escolhe o melhor candidato à Prefeitura de São Paulo. Se é casado ou descasado, se tem ou não filho não são fatores determinantes de um grande gestor público. Se formos por aí, o risco de cairmos na vala das agressões mútuas e gratuitas passa a ser enorme – e literalmente todos perdemos com o equívoco.

Ouvi hoje na rádio Bandeirantes – que vem fazendo uma notável cobertura do pleito municipal – o comentário sobre o tema do cientista político Torquato Guadêncio. Ele classificou como “sórdido” o ataque sofrido por Kassab. Disse também que, ao contrário do que se imagina, há uma tendência do eleitorado em se manifestar a favor do ofendido e assim o tiro sair pela culatra.

Por essa ou por aquelas, leio agora na home do UOL que a peça publicitária não será veiculada hoje, e há controvérsias de que voltará ao ar. De qualquer forma, o que ela queria dizer já disse – e eu acrescentaria até que a mídia adorou a provocação.

Sei não, viu. Mas, desconfio que o assunto em questão já estivesse pautado há algum tempo. Sei de muita gente que foi atentar para o anúncio depois do que leu nos jornais.

Teria sido ingenuidade dos editores, apreço à verdade dos fatos ou só estavam esperando a hora para tocar fogo no paiol…

O DECISIVO APOIO DOS ARTISTAS
Meus caros cinco ou seis leitores, vou lhes dizer porque, sabe bem vocês, que nada lhes escondo.

Li ontem aqui mesmo na home do UOL, antes de ser lindamente repaginada, que “artistas estavam pedindo votos para Gabeira no Rio de Janeiro”. A notícia falava dos apoios que o cantor/compositor Caetano Veloso e a cantora Paula Toller expressaram em seus respectivos blogs à candidatura do parlamentar àquela Prefeitura.

Longe de mim de querer me imiscuir em pleito alheio, eleitor que sou em Sampa. Mas, perdoem-me caríssimos, se vou escapar do que os descolados, alternativos e afins entendem como”politicamente correto”, mas se faz incontrolável o desejo de registrar aqui duas breves histórias de eleições relativamente recentes com a participação ‘decisiva’ de artistas.

Se os amigos já forem entrados nos trinta e tantos, hão de se lembrar do mutirão de artistas de todos os naipes e calibres que participaram do clip de apoio a Lula para presidente em 1989. Atores, atrizes, o pessoal da MPB, diretores de novelas e de teatro – o que vocês imaginarem de relevante nas artes cênicas e musicais apareceu no horário eleitoral, repetida vezes, a cantar o singelo refrão:

Lula lá…
É a esperança.
Lula lá…

E por aí seguia a canção.

Era uma celebração. Todos lindos, de branco, sorridentes a cantar…

Lula lá…

Nas urnas, deu Fernando Collor que contou como raquítico apoio de Marília Pêra e Cláudia Raia.

(Por um bom tempo, as duas foram olhadas como “traidoras” da causa pública pelos seus pares e pela mídia.)

A outra historinha bem emblemática ocorreu, anos antes, aqui mesmo em São Paulo. E também num pleito municipal. O sociólogo e senador Fernando Henrique Cardoso era o favorito das pesquisas, da intelectualidade e dos artistas para eleger-se prefeito de São Paulo. Lembro do moço fazendo campanha no centro de São Paulo, ladeado pelas belas Regina Duarte e Maitê Proença. Recém-chegado de Paris, era só sorrisos e certeza da vitória.

Seu adversário era a sombra do passado, do retrocesso, do populismo: o ex-presidente Jânio Quadros.

Uma semana antes das eleições, um grande showmício, com a participação de Gil, Chico Buarque, Djavan e a fina flor da MPB, reuniu mais de uma milhão de pessoas nos arredores do Centro de Convenções do Anhembi, naquele espaço onde hoje se localiza o sambódramo paulistano.

Foram horas e horas de cantoria e falação. Alguns chamaram o encontro como “a festa da vitória”.

Mesmo assim, houve a votação porque, tanto no futebol como nas urnas, ninguém ganha na véspera – e o resultado, todos sabem: deu Jânio por uma diferença de pouco mais de 100 mil votos.

O curioso é que, no mesmo dia do showmício, naquele domingo que era para ser histórico, a candidatura Jânio Quadros também fez o encerramento da campanha numa modesta praça no bairro operário da Vila Maria. No mesmo horário, juntou algo em torno de 20 mil pessoas para ouvi-lo discursar e assistir a um show com Moacir Franco e as Irmãs Galvão…

FOI ASSIM EM 2000
Marta Suplicy foi eleita prefeita de São Paulo, em 2000, após derrotar o competente Paulo Maluf – “aquele compete, compete, compete…” – no segundo turno por ampla vantagem de votos.

Além da piada acima, feita na ocasião pelo então líder do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, algumas curiosidades marcaram aquele pleito. Creio que a mais relevante foi a decisão do governador Mário Covas em dar apoio incondicional à candidatura de Marta, àquela altura um nome relativamente novo no cenário político nacional.

Explica-se a relevância.

No primeiro turno, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, quase chegou lá. Teve um bom desempenho, com aproximadamente 900 mil votos. Ficou em terceiro, atrás de Maluf por uma diferença ínfima de cerca de 40 mil votos.

Até por força dessa expressiva votação, era fundamental a participação dos tucanos que, de resto, e por uma característica inerente ao partido, hesitavam.

A bem da verdade, sobraram farpas ao longo do primeiro rounde da campanha entre petistas e pessedebistas. As pendengas remetiam ainda às eleições de 98. Os institutos de pesquisa anunciaram no dia da votação que Marta, também candidata ao Governo, não tinha quaisquer chances de ir para o segundo turno. Maluf liderava os indices e os anti-malufistas descarregaram seus votos em Mário Covas, consagrando o voto útil.

Após a apuração, a votação de Marta supreendeu. Faltou pouco para superar Covas, o anti-Maluf.

No entender dos petistas, foi um equívoco premeditado – o que comprometia a lisura da vitória de Covas.

Os tucanos não gostaram, óbvio. E demoravam a manifestar de que lado estariam.

Foi então que Covas veio a público e, no melhor estilo, pôs fim à celeuma. Apoiaria Marta por um motivo simples. Sempre que Maluf estivesse de um lado, ele, Mário Covas, e o PSDB estariam do outro.

Básico…

Divertido nesta eleição foi ouvir a esfarrada desculpa de Maluf para continuar competindo. Lembram que ele dissera que, se Pitta não fosse um bom prefeito, ninguém precisaria votar em Paulo Maluf?

Pois é…

Agora ele justificava a candidatura dizendo que os paulistanos precisariam elegê-lo para que pudesse corrigir os erros de seu ex-afilhado, Celso Pitta.

A REJEIÇÃO DE DONA MARTA
Não há como negar. Marta Suplicy fez uma boa administração à frente da Prefeitura de São Paulo a partir de 2001. Herdou a Municipalidade em cacos, após o período Pitta, e fez realizações interessantes como o saneamento das finanças e os propalados Ceus. Teve erros e vacilos, como a criação da taxa do lixo e o discurso de que governava para a periferia. Nada absolutamente comprometedor. No entanto, foi fragorosamente derrotada pelo então candidato José Serra nas eleições de 2004, apesar da milionária campanha que fez para reeleição.

Mais do que a análise de seu governo, alguns pontos influíram, de forma decisiva, para o resultado da eleição. Importante, por exemplo, destacar a escolha de José Serra como candidato do PSDB. Não só por sua trajetória política eleitoral, mas principalmente pelo residual de votos que manteve desde que, em 2002, disputou a Presidência da República, enfrentando Lula. Serra ainda estava na lembrança do eleitorado como um candidato de porte e calibre nacional.

Outro ponto decisivo foi a performance tíbia – o que é natural, mas não para os eleitores – dos dois primeiros anos do Governo Lula. Mesmo com bons índices de popularidade – só afetados posteriormente pelos escândalos do mensalão e afins – o paulistano preferiu algo mais “conservador” e com resultados convincentes no governo do Estado. Ou seja, uma administração tucana. É bem verdade que muitos já imaginavam que Serra não permaneceria no cargo até o fim do mandato – era óbvia sua futura candidatura para governador ou para presidente – resolveram arriscar.À época , a campanha do PT tentou bater na origem “um tanto suspeita” do candidato a vice, o então pefelista Gilberto Kassab – amigo do Maluf e secretário de Celso Pitta – mas, não surtiu efeito.

O terceiro aspecto que derrubou Marta foi que ela perdeu para ela mesmo. Desde a vitória no primeiro turno, ela adotou um discurso e uma postura que boa parcela dos paulistanos considerou “arrogante” — e essa imagem começou a ganhar contornos mais efetivos junto à população durante o mandato e especialmente depois que se separou do senador Eduardo Suplicy. Sei que vida pessoal é vida pessoal, mas a população não gostou – e ponto. Ao que consta, Marta nunca se preocupou com esse estigma que se consolidou definitivamente quando ela, então ministra do Turismo, soltou o célebre “relaxa e goza” em pleno apagão dos aeroportos.

A fama de antipática gerou altos índices de rejeição que pode afastá-la, ao menos por enquanto, de um segundo mandato como prefeita de São Paulo.

AINDA SOBRE ELEIÇÕES
Conversa inevitável hoje por todos os lugares onde andei: a vitória de Gilberto Kassab em São Paulo e a repercussão do feito num futuro bem próximo. Já dissemos isso ao fim do primeiro turno e reiteramos agora: outro grande vitorioso foi o governador José Serra que saiu desta candidatíssimo à sucessão de Lula daqui a dois anos.

II.

Aliás, percebo nitidamente certo ufanismo entre os vitoriosos e seus eleitores. Ao que anunciam já está tudo nos conformes para 2010. Dá Serra na cabeça, com apoio da popularidade emergente de Kassab, entre outras lideranças país afora.

III.

Ontem mesmo na TV vi um tucano de rica plumagem (que, diga-se, trafega com a mesma desenvoltura pelas alas de Alckmin e Serra) anunciar uma futura provável dobrada de Serra com o governador mineiro Aécio Neves que sairia como vice.

IV.

Até a recatada apresentadora animou-se com a possibilidade. Diria até que quase deixou escapar um eufórico “imbatível”. Quase. Um cientista político que também participava do programa tratou de sensatamente fazer a ressalva:

— Não é uma dobradinha tão simples de se costurar.

V.

O moço tem razão. Ele não disse que não era possível. Explicou que há, desde já, diversos interesses em jogo – e de todas as partes envolvidas no perigoso jogo do Poder. Especialmente por que em política sempre vale lembrar o tal dito popular: “Se o cavalo passar atrelado, trate de montar. A gente nunca sabe quando vai passar de novo. Não sabe até se vai passar”.

VI.

Pensem comigo. Não seria fácil convencer Aécio esperar, no mínimo, mais quatro anos. Quais os caminhos que ele precisaria seguir para continuar na cena política e na mira da mídia nacional?

VII.

Tem outra. Podem ser oito anos, claro. Pois, se José Serra vencer, vai querer dar um repeteco em 2014, certo?

VIII.

O governador de Minas é jovem – anda pelos 40 e tantos –, pode esperar. Mas, a questão é outra. Em política, a gente nunca sabe para que lado vira o vento. Olha o que aconteceu em São Paulo. Quando o tal cavalo vai passar atrelado? Kassab era o azarão. Marta e Alckmin puxavam a lista de intenção de votos. Em agosto, houve rumores de que Marta, então favorita, precisou tranqüilizar a ministra Dilma Roussef que, mesmo se vencesse em São Paulo, não postularia concorrer à Presidência da República em 2010. De repente, Kassab atropelou – e, de certa forma, ocupou o espaço na reta de chegada e se transformou num fato novo e relevante.

IX.

Hoje os jornais já anunciavam o prefeito reeleito como “uma liderança nacional”. Ou seja, não é mais apenas um peão no tabuleiro do jogo político para 2010. Toda e qualquer negociação que houver para uma eventual coalizão no futuro, certamente terá Kassab como um dos interlocutores – e com sua nova pose de vencedor.

X.

Quanto a Aécio, é indiscutível tem hoje um alto cacife para negociar; tanto de um lado como de outro. Já ouvi de petistas que ele seria um bom nome para ser vice de Dilma Roussef. Mas, não tenho dúvidas, como bom mineiro que é, só vai se pronunciar após matutar e matutar. Ouvir todos os lados e só então se pronunciar em causa própria.

XI.

Resumo da ópera. Tem muita coisa pra acontecer até 2010.