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Uma história mais do que manjada…

Chego cansado ao estacionamento do aeroporto de Guarulhos, onde deixei meu carro logo pela manhã para voar com destino a Vitória.

Este ir-e-vir, vou lhes ser franco, não me foi lá muito confortável.

Não sou mais um menino, vocês sabem.

De qualquer forma, compromisso saldado, cá estou. De mala e cuia e um zumbido no ouvido e a cabeça ainda mais sonsa do que já é.

Inevitável: cadê a chave.

Está no bolso da calça ou do paletó? No compartimento menor da bolsa ou na parte onde guardo os documentos? E pensar que uma batida agora até meu apartamento, em São Bernardo, é uma jornada!

A chave, achei.

Onde eu pus o ticktet do estacionamento?

— O quê? Não entendi.

Tem um rapaz ao meu lado. De repente.

Sotaque arrastado, de paranaense. Fala e gesticula, e eu mal consigo ouvi-lo.

Difícil não pensar em assalto, neura de paulista.

Ele se faz acompanhar de uma moça e, pasmem!, um carrinho de criança.

Ela fica a certa distância. Olhos mais arregalados do que o meu.

Que estranho!

Só agora reparo que ele traz um garoto – três ou quatro anos – ao seu lado.

Abro as mãos, sacudo o ombro, franzo a testa – e ele percebe que não lhe ouço.

Repete, então, o que me disse anteriormente:

— Moço, moço, preciso de sua atenção. Viemos de Curitiba para São Paulo para a casa da mãe da minha mulher. Os vizinhos disseram que ela não mora mais lá – e agora precisamos de um dinheiro para inteirar as passagens de volta… Eu não queria estar pedindo, mas não me resta outra alternativa…

Olho para o casal.

Não são mendigos. Estão vestidos com certo aprumo, normal.

Estão me tirando de otário, concluo.

Essa é uma história mais do que manjada.

(Ufa! Achei o ticktet! Estava no bolso de trás da calça)

Vou manda-los procurar outro trouxa que eu não caio nessa.

Olho para o garoto.

Tem uma expressão de susto no rosto bonito.

Que pai se prestaria a tamanho papel na frente de um filho?

Só mesmo em caso extremo, no mais absoluto desespero.

Se for lorota, estou diante de um grande mau caráter.

Será?

Tenho duas notas de vinte paus no bolso.

Entrego uma para o rapaz, e digo:

— Cuide do garoto!

Não sei se agi certo.

Sei que não gostaria de estar na pele de nenhum dos três.