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B-250 ou Ney Matogrosso…

Foto: Divulgação

Eu não queria ter um nome.

Queria ter um número. B-250.

À época dos Secos & Molhados, eu não tinha rosto.

Era uma máscara – um pouco por timidez, outro tanto porque as pessoas ficavam dizendo que eu seria consumido. Inapelavelmente consumido.

Então, passei a acreditar que essa era a melhor solução. Um número: B-250.

Olha…

Não sei qual é a função do artista, do intérprete.

Sei qual a minha função, a que me doo, a que acho que é a minha.

Sou uma pessoa muito desreprimida, e é isso que pretendo passar para todos.

Não fico por aí a levantar o estandarte “Faça o Que Eu Faço”.

Nada disso.

Na verdade, é faça o que quiser fazer.

Mas, fique atento para que consiga fazer o que quiser fazer.

Procuro ser um desopressor.

Liberdade é mais.

Liberdade ampla – e sempre!

Liberdade espiritual, inclusive.

Sabe? A gente é livre.

O espírito é livre.

Por consequência, você pode,  mesmo diante de tudo o que aí está, se entender um indivíduo livre.

Ninguém precisa esperar que o outro lhe diga:

“Estou de acordo”.

Não, não sei lhe dizer  quais os caminhos que percorri e que percorro.

Sei que vou por aí.

Minha intuição me guia.

Não tenho medo de ousar.

Entro e saio de qualquer uma.

A qualquer momento. Sem grilos.

Fim dos anos 70.

Depoimento de Ney de Souza Pereira, que o Brasil ama e conhece por B-250, ops… por Ney Matogrosso.

Conversamos, por hora e tanto, na Sala de Imprensa da discreta casa que a gravadora Warner ocupava na rua Álvaro Guimarães em Pinheiros.

O Brasil era o quarto mercado fonográfico do mundo.

O cenário era promissor.

Ney dava os primeiros passos de uma promissora carreira solo após a instigante explosão roqueira/psicodélica (para além da Tropicália) dos Secos & Molhados.

Encontro um Ney discretíssimo, contido na voz, no gestual, na maneira de se vestir. Sim, sim, bem diferente da persona inquieta, multiforme e multicor  que admirávamos quando estava em cena.

Suas palavras, porém, eram firmes, coesas.

Determinavam o espírito libertário e desbravador que, a bem da verdade, o acompanhou nesses seus mais de 50 anos de personalíssima carreira.

Neste 1° de agosto, Ney completou 80 anos.

Que dádiva!

Merece o reconhecimento e, como de hábito, todos os aplausos.

*A longa entrevista foi publicada, originalmente, em 8 de junho de 1979.

Juro! Um dos trabalhos dos quais mais me orgulho de ter feito.

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