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A polêmica

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Participantes da Semana de 22. Mário de Andrade em pé, à esquerda; Oswald sentado, à frente do grupo/Reprodução

O que é o mundo hoje?
Pouco mais que uma bolha…
Meu amigo Nestor, lá dos confins da Bélgica, acompanha interessadíssimo e quer participar da tal polêmica sobre a relevância da centenária Semana de Arte de 22 para as conquistas da chamada cultura modernista no século 20 e hoje?
“Ao que eu soube pelas redes sociais de amigos, todo esse embate parte do livro que o Ruy Castro lançou em dezembro passado (As Vozes da Metrópole – Uma antologia do Rio dos anos 20) e pretensamente quer minimizar o papel dos artistas e do movimento paulista(no)s nos avanços artísticos e culturais que sempre se apregoou à Semana. É isso?”

Io mio più caro amico, se non è vero, è ben trovato.
Mas, não tenho como lhe afirmar cabalmente.
Não imagine, Nestor, que, por morar no Brasil e ser jornalista, eu corra atrás de acesso a todos os tipos de informação, como me esforçava fazer nos antigamentes.
Estou numa fase mais blasé.
O que sei: há dois livros do Ruy Castro que tratam do tema assim, digamos, de forma indireta e intencional (o supracitado de dezembro de 2021 e Metrópole à Beira Mar – O Rio Moderno dos Anos 20, de 2019), houve também um artigo na Folha de S. Paulo, assinado pelo mineiro flamenguista e apaixonado pelo Rio de Janeiro, além da entrevista do jornalista, escritor e biógrafo no programa Roda Viva…
Mas, sinceramente, não há como afirmar que toda a discussão parte daí.

Perdoe minha indiferença, Nestor. Ando leniente nesses dias pandêmicos.
Confesso: não li os livros do Ruy Castro, nem o texto da Folha.
Também não assisti ao tal programa da TV Cultura.
Fui saber do embate, ainda neste domingo, quando um amigo me enviou a cópia do longo e detalhado ensaio desenvolvido pelo professor da USP, José Miguel Wisnik, para o caderno Ilustríssima da Folha de S. Paulo sobre o assunto:
“Semana de 22 ainda diz muito sobre a grandeza e a barbárie do Brasil de hoje

Ou seja, fiz o caminho inverso.
Soube da resposta, diria, antes de saber da pergunta.
O artigo, entendi à primeira leitura, era uma resposta a alguma provocação.
Imaginei a princípio que a celeuma já fosse tema natural de colóquios entre pensadores, intelectuais, acadêmicos e afins a partir da inevitável celebração do centenário do movimento que teve como palco o Teatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922.

Justiça se lhe faça, amigo.
O que penso – e lhe digo:
Mais do que uma das eternas quedas de braço entre Rio e São Paulo (vale para o futebol, vale para as artes, vale para a vida em geral), a Semana de Arte Moderna sempre causou polêmicas e exacerbados debates pela natureza e dimensão das propostas inovadoras do movimento.
Desde o início…
Talvez a mais célebre arenga seja a que se deu entre Monteiro Lobato e Anita Mafalti. O escritor, mesmo reconhecendo o vigor da artista, criticou suas telas como uma “arte anormal”, “paranoica’.

Lembro que, ali nas décadas de 60 e 70, quando se retomou o tema a partir da eclosão do Tropicalismo entre outros movimentos artísticos e culturais – e também da proximidade do cinquentenário da Semana em 1972 – teve enorme repercussão a encenação de O Rei da Vela (de Oswald de Andrade, pelo Teatro Oficina) e, posteriormente, choveram críticas ao filme Macunaíma (a partir do livro de Mário de Andrade) com direção de Joaquim Pedro de Andrade.

Registre-se que, acusados de os novos modernistas, os tropicalistas baianos Caetano e Gil foram presos em dezembro de 1968 e, posteriormente, exilados pelos ditadores de plantão e a mando e gosto de segmentos conservadores, menos pelo que representavam em termos ideológicos – e, sim, pelo sêmen de liberdade e libertação individual e coletiva que difundiam entre os jovens de então.
Lembra o refrão?
“É proibido proibir!

A bem da verdade. Nestor, bem-vindo seja hoje o confronto de ideias desde que todos possam se expressar livre e saudavelmente. Sem lacrações, cancelamentos e as tais verdades absolutas tão em voga nesses tempos, como aqueles, igualmente nebulosos…Ufa!
Ufa! Escrevi demais.
Fico por aqui, amigo.
Abraço fraterno –
e aguardo outros temas para novas conversas no Blog.

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