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Escova não está nada bem

Encontro o amigo Escova na barbearia do Abílio, no Ipirangão velho de guerra.
Vou dar um trato na aparência para não me confundirem (mais do que já me confundem) com o eremita da montanha. Mal lhe dou ‘bom dia’ e lhe pergunto o que achou do post de ontem em que faço uma referência ao desaparecimento do Gighetto e aos seus tempos (dele, Escova) de Dom Juan das Quebradas do Mundaréu.

Escova sequer interrompe a leitura do jornal de esporte. Esboça um brevíssimo sorriso e dá de ombros.

Fico no vácuo, mas não desisto.

– Não gostou?

– Era inevitável, balbucia. – Por outra, estou acostumado às suas maledicências.

– Vixi! Desculpa aí… Você sempre se orgulhou da fase em que era o rei da mulherada. Além do que, o Gighetto foi ponto de encontro emblemático para toda uma geração. Lembra o dia em que os freqüentadores de todas as mesas se levantaram para aplaudir a Derci Gonçalves assim que ela entrou…

– Eram outros tempos.

E continuou, largando o jornal sobre a cadeira:

– Lembra do Orvietto, da Cantina do Giovanni Bruno, do Monte Chiaro, do Jogral, do Piolin, da Churrascaria Eduardo’s, do Spaccio Pirandello… Todos desapareceram; diria até que sem deixar vestígios. Não dá para resgatar aqueles momentos. Que fiquem, pois, nas nossas memórias. Como disse, era inevitável…

Estranho o ‘bode’ do amigo, sempre bem-humorado e falastrão – especialmente quando se trata de rememorar os idos tempos. Em todo caso, achei por demais oportuno quando o Abílio diz que é a minha vez e, em silêncio, me aprumo na cadeira.

Enquanto ajusta o avental que me cobre, o Abílio, gozador que só, murmura baixinho, sem que o Escova possa ouvir:

– Toda vez que tem uma notícia dessa o Escova se conscientiza ainda mais que, como Dom Juan, ele também está fora de circulação…