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Heliópolis e Vila Carioca sob alta tensão

"Não basta ter boas qualidades, cumpre saber usá-las" (La Rochefoucauld)

01. Ainda era tensa na manhã de ontem a situação em Heliópolis. Desde às seis horas da quarta-feira, um contingente de 200 policiais militares garantiu a reintegração de posse de um terreno da Eletropaulo, determinada pela 1ª Vara Civil do Fórum Regional do Ipiranga. Tratores derrubaram 190 barracos de tábuas e alvenaria, desalojando aproximadamente 700 pessoas. Houve protestos no período da tarde. Moradores tentaram interditar o trânsito da região, queimando pneus e móveis velhos. Mas, foram dispersados pela PM que usou bombas de gás e balas de borracha para controlar a multidão e evitar maiores contratempos.

02. Técnicos da Eletropaulo justificaram a ação policial. As moradias estavam instaladas sob a linha de transmissão Sul Bandeirantes, de 88 mil volts e era grande a possibilidade de uma tragédia. Além dos fios de alta tensão, um gasoduto passa no subsolo.

03. A área de 8 mil metros quadrados foi ocupada ano passado e está localizada entre as avenidas Carioca e das Juntas Provisórias. É uma questão de responsabilidade social da empresa — informou o diretor executivo da Eletropaulo, José Maria Sampaio. Os moradores — afirmou Sampaio — sabiam que haveria a reintegração e que iríamos cumprir a ordem judicial.

04. Disse mais: A empresa pôs a disposição dos moradores caminhões para o transporte dos móveis, depósito para guardá-los por 30 dias e passagens de ônibus para qualquer lugar do País.

05. Por sua vez, os manifestantes revoltaram-se porque, segundo eles, havia um pacto de três meses para que as famílias fossem retiradas — e esse acordo não foi cumprido. A proposta dos moradores era a de negociar a transferência dessas famílias para os alojamentos provisórios da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab), que fica nas imediações. No entanto, esses alojamentos só estarão desocupados em abril, quando os atuais moradores serão transferidos para uma Cohab em construção.

06. Essa questão acabou gerando uma polêmica entre a Eletropaulo e a Secretaria Municipal de Habitação. No último dia 2, houve uma reunião entre as partes para negociar uma solução para o caso. Para o porta-voz da Eletropaulo, o acordo não chegou a ser fechado. Precisávamos agir rapidamente. Faltou agilidade à Secretaria — disse Meirelles. A Eletropaulo mentiu — retrucou o secretário Paulo Teixeira. Enviamos o documento formalizando o acordo na terça (13).

07. O bate-boca entre as partes acaba revelando uma velha tradição da política brasileira: adiar soluções que envolvem a qualidade de vida dos munícipes e que são urgentes até porque envolvem a vida de uma centena de pessoas. Em toda São Paulo existem mais 70 áreas de risco, identificadas pela Eletropaulo. Nesses locais, famílias vivem sob fios de alta tensão sem se dar contados riscos que correm. São áreas que foram ocupadas sob a premissa da realização do sonho da casa própria. Mera ilusão. Na maioria das vezes, esses desvalidos servem de massa de manobra para interesses políticos e eleitorais e ficam sem eira, nem beira. Ao Deus-dará…