Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

O tombo do Governo no empresariado

"Todos vivemos sob o mesmo céu, mas nem todos vêem o mesmo horizonte" (Adenauer)

01. Quando garoto morei no Cambuci e uma gíria corrente entre os malandros de então era passar o rodo. Significava para os enturmados algo como dar uma rasteira, derrubar, dar um tombo. A capoeira não era o esporte da moda, nem o axé-music tocava em nossas rádios. Sei que para muitos dos nossos jovens é difícil entender o mundo sem a capoeira e a axé-music, mas vá lá… Importante destacar, porém, que, para o código de honra da época, o protagonista da ação (ou seja, aquele que aplicava o golpe) vangloriava-se do fato à cada esquina enquanto ao derrubado só restava a humilhação própria dos otários, do vacilão, do último dos mortais…

02. Lembrei da expressão, nesta semana, ao ver a alegria do presidente Fernando Henrique Cardoso que comemorou o acordo para acertar, a perder de vista, as diferenças do FGTS do trabalhador em função dos planos econômicos encetados no governo do outro Fernando, o Collor de Mello. O presidente falava em maior acordo da História, algo em torno de 32,7 bilhões de reais e isso e aquilo. Não sei se exagero, mas ocorreu-me um certo desconforto quando vi a prosa convicta do presidente. E, de imediato, aguardei a seqüência do noticiário para identificar o otário de plantão. Não tardou e o coro dos descontentes se fez ouvir…

03. Mais uma vez, o empresariado nacional vai pagar as contas. Segundo o acordo entre as esferas federais e representantes dos trabalhadores (menos a CUT que não topou a proposta), aumenta de 40 para 50 por cento o valor da multa recisória que os patrões terão que pagar ao funcionário que for demitido sem justa causa. Os 10 por cento, obviamente, vão para os cofres públicos que, com a demora de sempre, os repassarão ao trabalhador. Há outros ítens em pauta (contribuição mensal das empresas passa de 8 para 8,5 por cento e o governo entra com 6 bilhões de reais em títulos do Tesouro), mas o grosso da conta sairá mesmo do setor produtivo…

04. Até uma criança é capaz de entender que é inevitável o repasse de mais essa taxa para o preço do produto final. É igualmente inevitável que as empresas fiquem, a partir daí, mais reticentes em ampliar o quadro de funcionários e assim haverá uma conseqüente queda na oferta de emprego. O que, por si só, sugere um incentivo à economia informal, o que pressupõe aumento do subemprego…

05. Quando se vê um horizonte nebuloso para a economia mundial, com ameaça de recessão nos EUA e o destempero das finanças na vizinha Argentina… Quando se sabe do montante de importações que o País está sendo obrigado a fazer, via globalização… Quando nos arrepia a instabilidade do dólar e nos aflige uma das cargas tributárias mais altas do mundo, chega a surpreender a desfaçatez do Governo ao passar mais esse rodo no empresário e, por tabela, derrubar toda a sociedade…