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Lembrando o amigo Clamic…

O post de ontem me fez lembrar o amigo e repórter-fotográfico Cláudio Micheli.

Saudoso parceiro de tantas jornadas na combativa Gazeta do Ipiranga.

Velhos tempos. Belos dias.

II.

Nós, da Redação, o chamávamos de Clamic.

Era um cara talentoso – e com algumas manias.

Só andava de camisetas promocionais – e não importava se ele as ganhava de um candidato ou de uma loja em liquidação ou fosse o evento que fosse.

Para esconder a calvice, usava boné, o que naqueles idos era um acinte.

Colecionava discos com músicas de sucesso, fosse qual fosse o gênero.

Sonhava em trabalhar no rádio.

E, certa vez, largou o jornalismo para ser vendedor de sapatos.

Por um breve tempo, é bem verdade.

Logo estava de novo entre nós.

Com a mesma criatividade para fotografar o dia a dia do bairro – e com a mania de ter manias.

III.

Nessa volta, ele logo achou um jeito de, entre uma reportagem e outra, passar o tempo a seu modo.

Recebíamos uma penca de correspondência diariamente. Quase toda ela endereçada a mim; então, diretor responsável do jornal.

Clamic, então, percebeu o quanto os remetentes erravam na grafia do meu nome.

Martins.

Martinez.

Martini.

Marinho.

Martinho.

Martim.

Marins.

Marteiro.

E por aí iam…

Isso quando não me nomeavam de Roberto Carlos…

O que não era raro acontecer.

IV.

O que fez o amigo?

Tratou de colecionar esses envelopes.

Ao cabo de algumas semanas, havia uma pilha deles amontoados em um canto da sala, entre o arquivo e os jornais do ano.

Óbvio, que as pessoas também tinham esses lapsos quando me encontravam ao vivo e pálido, como sempre fui.

Às vezes, eu corrigia. Às vezes, não me dava ao trabalho.

Nunca me incomodou.

V.

Esqueci de dizer que o Clamic era também ‘esquentadinho’.

Sujeito a chuvas e trovoadas a depender do dia e da hora.

E foi numa hora incerta que ele perdeu a paciência com um senhor do Rotary Club local que insistia em me chamar de Martini:

“Meu considerado”, disse o Clamic já com voz de poucos amigos. “Martini é vermute. Martins é o português das batidas de amendoim. Martinho é o primo dele que é sambista. O nome dele é Martino, Martino, entendeu?”

VI.

Fez silêncio por segundos. Depois todos caímos numa gostosa gargalhada.

Até mesmo “o considerado” riu. Sem graça, mas riu…