No início dos anos 80, o Brasil era o terceiro ou quarto mercado fonográfico mundial.
Todas as multigravadoras estavam enfeitiçadas pelo volume de negócios que podiam fazer em plagas nativas.
Dinheiro, dinheiro, dinheiro…
RCA, Emi-Odeon, Philips/Polygran, CBS já andavam por aqui há tempos.
A WEA, de André Midani, desembarcou em fins dos anos 70.
A holandesa Ariola foi a última a chegar em 1981.
Para impactar a opinião pública, queria contar em seu cast com grandes nomes da MPB.
Chico Buarque recebeu uma proposta milionária.
Mas, preso por contrato à Polygran, só poderia assinar com a nova gravadora depois de gravar mais dois bolachões.
Criou-se o impasse. Resolvido meses depois com o lançamento de “Saltimbancos” e uma coletânea em espanhol, se não me engano.
Em 1981, Chico grava “Almanaque” pela Ariola.
Entre as faixas, está a emblemática “A Voz do Dono e o Dono da Voz” em que Chico ironiza as vicissitudes que viveu durante a queda de braço com a antiga gravadora.
Diz um dos versos:
“Enfim a voz firmou contrato
E foi morar com outro algoz”
II.
Lembrei-me da história hoje pela manhã durante a palestra do Encontro de Jornalismo, organizado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo. O jornalista convidado foi o colunista da Época , Paulo Moreira Leite, para falar sobre o tema “O Desafio do Jornalismo Político Hoje”. Ele compôs a mesa ao lado dos professores e jornalistas José de Sá e Júlio Veríssimo.
Foi um bate-papo bem interessante – e esclarecedor para a platéia, formada por estudantes de jornalismo, olhos e sonhos no futuro que virá.
Por diversas vezes, ao longo da conversa, apareceram as expressões “a voz do dono” e “o dono da voz” para tentar explicar um das atuais características atuais do fazer jornalístico:
Quem grita mais na lida diária das redações?
A voz do dono do jornal ou independência do jornalista na apuração dos fatos?
É a nossa vez de lutar pelo nosso espaço…
III.
Hora e meia e muitas divagações depois, a mesa chegou a poucas conclusões.
O que, aliás, é uma gostosa prática dos jornalistas
Uma das conclusões é que, por enquanto, está valendo mais a voz do dono.
Mas, a garotada – que adorou o encontro – promete mudar o jogo. Logo, logo…