Foto: Jô Rabelo
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Desconfio que foi lá pelo ano 2000.
Havia certo alarido midiático em reverência ao cinquentenário da televisão no Brasil.
Muito justo.
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Numa noite de sexta-feira, caso do acaso, estou com amigos, também jornalistas, e paramos diante do aparelho de TV para assistir ao Globo Repórter que retratou, justamente, os 50 anos de jornalismo na TV brasileira.
Um programa bem feito e tal e cousa e mariposa, como diria o grande Plínio Marcos.
Pedro Bial, no comando.
– Só podia ser ele, profetizou um dos presentes, o Escova
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O global falou dos primórdios da heroica TV Tupi, de Assis Chateaubriand, dos pioneiros da reportagem Carlos Spera e Antônio Carlos de Moraes (o Tico-Tico) e do primeiro apresentador Maurício Loureiro Gama (que só de vê-lo na tela já me emocionou, pois sua fisionomia lembrou a do meu saudoso pai).
Sou nostálgico por natureza, então me esbaldei com o desfile de programas e personagens históricos. Na maior parte, tão presentes em minha memória afetiva.
Justiça se faça a Bial e aos seus colaboradores na edição do programa, houve uma abordagem ampla ao incluir noticiários de outras emissoras como O Repórter Esso e o inovador programa Abertura, dois bons exemplos dos primórdios telejornalismo em plagas brazucas.
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Tudo muito bom.
Tudo muito bem.
Termina o programa, a maioria de nós em êxtase – e lá vem o Escova, com o tal senso crítico, característica do grande repórter que sempre foi.
“Esse Bial é um monstro em termos de textos para a TV.”
Concordei desconfiando.
Tem uma ironia aí, pensei.
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Conhecendo como conheço o Escova, deduzi logo que o amigo criou um clima para outras considerações.
Segue um arremedo do que foi, então, o nosso diálogo:
– Desembucha, Escova. Diz logo o que quer dizer.
– Quero dizer que o Bial é um hábil construtor de textos para a TV.
– Sim, Mas, qual a novidade?
– A novidade não é tão novidade assim em se tratando de Globo.
– Eita, sô! Não embroma. Fala homem…
– Reparem, amigos, que ele juntou num ágil videoclipe os principais fatos que tratam da redemocratização do Brasil no final do primeiro bloco e, em breves instantes, a todos comoveu.
– Ficou legal. Gostei, disse sem maior convicção de que seria aprovado ou não.
– Pois é… Ficou tão legal, as imagens foram tão impactantes… A campanha das Diretas-Já, o Congresso em festa elegendo Tancredo, a morte do primeiro presidente civil pós-ditadura… Tudo tão impactante que o telespectador nem se dá conta de que a Globo, em todo esse período, esteve do outro lado do balcão compondo com os generais-ditadores de plantão.
E concluiu o Escova
– Vocês perceberam, não?
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Não, e sim.
Só quando ele deu o toque sobre o contexto todo o drible da edição ficou claro para nós.
É isso.
Desconfio que, para a maioria dos telespectadores, passou batida a realidade dos fatos.
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Lembro. aqui, a observação do amigo Escova porque tive a pachorra de acompanhar, na tarde de ontem, o noticiário da Globo News sobre a conclusão divulgada pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU de que houve parcialidade no julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tema importante…
Ainda mais porque estamos em ano eleitoral.
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A reportagem foi, digamos, protocolar.
Correta, num tom informativo.
Minha curiosidade se aguçou na hora dos comentaristas se pronunciarem sobre o tema.
Eles que, lá naqueles idos, validaram o Golpe do Impeachment e adotaram um tom de verdade absoluta e irretocável aos desmandos provenientes da República de Curitiba.
O juizeco e seus blue caps eram endeusados a cada pronunciamento.
Caberia agora um mea-culpa?
Fariam uma autocrítica?
Apelariam para o proverbial “erramos”?
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Que nada, amigos.
Tergiversaram sobre o tgema
Minha impressão é a de que os nobres colegas jornalistas prefeririam não comentar o assunto.
(Aliás, como o fizeram por ocasião da Vaza-Jato denunciada pelo americano The Intercept.)
Estavam, digamos, desconfortáveis.
Insistiram na pose hirta dos badejos na geladeira de supermercado. Olhar baço. Tom de voz linear a dizer palavras que não dizem, nem contradizem.
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Ei-los…
Como de hábito e costume…
Os imparciais.
Os vestais.
No dizer do amigo Escova, foram os arautos da recente tragédia institucional brasileira.
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Pior:
Eles não foram os únicos.
Quase a totalidade da parte da Grande Imprensa caiu nessa esparrela.
E deu no que deu:
O capitão foi eleito.
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O que você acha?