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O que o tempo leva… (21)

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UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: Arquivo Pessoal)

 

FELISBERTO não é mais o mesmo, ok! Mas, e Lucilinda? Eis a questão…

 

Na verdade, não haveria de ser diferente.

“Temos tantas coisas em comum” – diz para si mesmo o gerente geral enquanto acaricia a enorme fivela do cinto que traz a épica inscrição I Love Barretos.

Todos já perceberam que Felisba não é mais o mesmo. Os conhecidos (amigos, vá lá!), Sr. Camargo e, acreditem, a própria Lucilinda.

Que bicho lhe mordeu? – perguntam os mais enxeridos.

Felisba é outro.

Não frequenta mais as bocas, nem os becos.

Não vai ao futebol.

O carteado, então…

Diz que falta cabeça pra por tento no ritmo das cartas.

O que ele não diz é que basta aparecer uma dama de copas, pronto, já associa a imagem à da amada Lu e não a descarta nem com reza braba.

Pode até perder o jogo.

Abrir mão da mulher da sua vida? Nem pensar.

Todos concordam que aí tem – e é m_u_l_h_e_r. Só pode ser.

Houve um gaiato que ousou fazer uma analogia:

– O Ronaldo que é o fenômeno não aguentou aquela louraça e abriu o bico em plena final da Copa do Mundo da França, lembra? Como é que o Felisba vai se segurar?

Paciente, de bem consigo mesmo, deixa que a turma pense o que quiser. Não lhe interessa sair por aí a cantar de galo porque as coisas não são definitivas ainda, embora estejam muito bem encaminhadas.

Afinal, nasceram um para o outro.

Num dia de inspeção rotineira, Sr. Camargo estranha o jeitão, digamos, intrépido do dublê de cowboy e funcionário.

– Está tudo bem com você? – pergunta desconfiado.

– Óquei, chefe – responde Felisba entortando a boca e com indisfarçável alegria.

Ao longe, ele vê o Fuscão de Lu se aproximar. O coração do caboclo (recente na indumentária, mas as origens bananalescas podem dirimir qualquer dúvida) bate descompassado.

Lucilinda nota – e, diga-se, não é de hoje – que o senhorzinho-malta ali está com barulho de carroça na cabeça, e supõe ser ela o motivo do ranger de rodas. Nota também que não há maldade e malícia na figura que agora parece mais uma caricatura do Beto Carreiro.

Ela o vê com apreço, algo trapalhão, generoso, ingênuo mesmo. Um forasteiro nos sinuosos caminho do amor, a tal flor roxa que nasce no coração dos trouxas.

Prefere ser cuidadosa no trato da questão.

Não quer magoá-lo.

A bem da verdade, não lhe incomoda em nada tais salamaleques.

Por vezes, são divertidos.

Ademais, sempre soube manter distantes os homens que não lhe interessaram.

Lembrou o Patrício, que se dizia presidente de uma escola de samba não sabe bem de onde.

Era cheio das histórias. Pelejou, pelejou – e nada conseguiu.

Chegou até a oferecer a fantasia de destaque principal pra ela desfilar no Carnaval. Disse mais: se ela quisesse, sairia de porta-bandeira, batuqueira, rainha da bateria, princesa, do que bem entendesse. Até no lugar do próprio presidente.

Reconhece que ficou um tanto inclinada a aceitar.

Gurugudum, oba! A avenida toda iluminada, olhares, aplausos, câmeras de TV…

Mas, por fim, relevou e deixou o presidente babão babando. Até porque a escola nem era do grupo especial. Ou seja, sem transmissão da Globo.

Não valia o sacrifício.

– Carnaval de São Paulo é muito fubá, desprezou.

Felisba, não. Solícito, prestativo, respeitoso. Fica todo trêmulo, sem jeito, quando ela o encara. E, malandramente, não lhe tira os olhos.

Ele sua frio, tenta disfarçar.

– Dia lindo, né, madame? Quer que eu guarde o carro? Assim a madame ganha uns minutinhos a mais no almoço.

A saber. Se Felisba pudesse editar os melhores momentos da sua humilde existência, incluiria sem vacilar todas as vezes que caminhou, lado a lado, com a amada Lu.

Ela manobra o carro na vaga, lá vai Felisba buscá-la. Sabe de cor. São 28 passos de pura magia do box que ocupa até o portão do Gera Park. Ele saboreia cada vez que põe e tira o pé do chão.

É o seu nectar.

Sente-se pleno, poderoso, feliz

 

 

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