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Diguemos que… (2)

VII.

Convido os meus caros cinco ou seis leitores a viverem a cena.

O estacionamento virou um furdunço só.

Não parava de entrar automóvel por todas as entradas do estabelecimento, até mesmo pela saída.

Os urros, cantos e gritos dos torcedores misturavam-se ao espanto dos fregueses habituais – estudantes e professores da Universidade.

No meio da bagunça generalizada, meia dúzia de funcionários tentava por ordem no enorme pátio, organizando a chegada e o enfileiramento dos veículos.

VIII.

Uma das professoras, recém chegada e diante de tamanha confusão, resolveu protestar para o senhor que ostentava um colete abóbora rebrilhante,
estampando a palavra ‘orientador’.

Identificou-se como mestre e exigia privilégios diante daquela “horda de invasores”.

Engatou um palavrório enfurecido.

– O gerente está? – perguntou ao senhorzinho, com voz de ameaça.

– Diguemos que não – respondeu o homem.

Só então me dei conta de que conhecia aquelas feições de algum lugar, mesmo que o tempo tenha feito um estrago danado nelas.

IX.

Mas, a mulher continuava destemperada.

E o diálogo, entre os dois, que se deu me foi revelador

– Mas, isso aqui está um caos!

– Diguemos que sim.

– Desse jeito vão amassar o meu carro…

– Diguemos que não.

– Somos clientes o ano todo merecemos respeito…

– Diguemos que sim.

– Tomara que o Palmeiras perca de 5 a 0.

X.

O orientador da ‘melhor idade’ nada respondeu.

Permaneceu em silêncio.

Ameaçou um riso, mas logo se conteve e continuou orientando nossas manobras:

– Diguemos que o senhor precisa chegar mais para esquerda e o do carro branco, diguemos, precisa ocupar a vaga ao lado.

XI.

Foi exatamente nessa hora que eu o reconheci.

Ali, estava o velho Diguemos, corintianíssimo que só. A praguejar, calado, contra o Verdão e a concordar com a professora exaltada.

Na hora, preferi não acreditar no mau agouro do reencontro.

Mas, diguemos, ops, digamos que foi em vão.