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Jesus e Pedro, na Sicília

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Disse Jesus aos discípulos:

“Estamos todos famintos. Mesmo assim, precisamos continuar nossa jornada”.

Jesus e os apóstolos andavam em pregação pela Sícília – sim, Sícília, aquela iluminada e bela ilha ao sul Itália.

Ao menos é o que me conta este senhor que beira os 80 anos, parece gostar de uma boa prosa e vive, na pequena e inspiradora Siracusa, a comandar uma pequena cafeteria, onde o turista faz uma parada para ‘esquentar’ o corpo e requentar a alma em suas parvas andanças pela região em janeiro deste ano.

II.

– Cristo, por aqui, na Itália? Nunca soube disso…

Giácomo – ao que entendi, é o seu nome – ignora solenemente o estranhamento do braziliano que atende, com ares de sabe-tudo.

– Si, perché no? Siamos la culla (o berço) dell´Humanità, cáspite.

Cápite, digo eu.

Mas resolvo, diplomaticamente, deixar que continue a história. Em nome do café. Também porque parece ser uma dessas boas lendas que resistem ao tempo pela tradição oral.

III.

Ouçamos o relato do Sr. Giácomo: 

“Façam o seguinte” – disse Jesus, o Mestre dos Mestres. “Cada um escolha uma pedra que imagine ser o tamanho da sua fome e a carregue consigo até a próxima aldeia”. Ao ouvir a mensagem, todos trataram de obedecer. Escolheram pedras de tamanho razoável e, com muito custo e suor, as levaram nos braços estrada fora até a próxima vila. Apenas Pedro resolveu optar pelo passo ligeiro a um desgaste maior transportando um peso que julgou desnecessário. Recolheu do chão um pedregulho e deu-se por satisfeito pela esperteza. Ao chegarem à aldeia, porém, deu-se o milagre. Cristo transformou as pedras em pães. E recomendou que os apóstolos se saciassem com o alimento. Só o desapontado Pedro ousou pergunta-lhe o que fazer: “Senhor, Senhor, e eu? Como só este pequeno pedaço enquanto meus irmãos se fartam com grossas fatias de pão?  “Pedro, Pedro… Estamos em terras estrangeiras, não é justo que tiremos desses humildes moradores o alimento que lhes cabe… Dei a chance a todos de se valer do próprio esforço”. ( ) Cumprido o tempo do descanso e da pregação, a  santa comitiva se pôs outra vez na estrada.  Como da vez anterior, Jesus recomendou que carregassem pedras. Pedro saiu a procurar a maior das pedras. Nesta hora, Cristo reuniu o restante do grupo e lhe alertou bem humorado: “Vamos dar umas boas risadas às custas de Pedro”. Todos seguiram com pedras leves enquanto Pedro, todo arqueado e a bufar, vinha a passos lentos com a imensa pedra nos ombros. (…) Quando chegaram próximos à cidade a ser visitada, Jesus mandou que todos atirassem longe as pedras que traziam. Pedro ficou confuso. “Você também”, disse Jesus. E explicou:  “Nossa próxima parada é um lugar repleto de panificadoras. Homens, mulheres e crianças vivem  em abundância. Por isso, meus caros, iremos nos alimentar dos melhores pães do lugar… Não se faz milagre todos os dias.” 

IV.

Lembrei a história do Sr. Giácomo ainda ontem no lusco-fusco do dia, na estrada. Entre um congestionamento e outro, outro congestionamento e mais outro.

Foram sete horas e tanto de um percurso que normalmente é feito em três, três horas e meia.

Não havia canção, por mais bela que fosse, que espantasse o tédio e o arrependimento pela viagem para “aproveitar” o feriadão de 7 de setembro na pacata São José do Barreiro.

Se ficasse em São Paulo, também estaria entediado e ‘arrependido’ por não ter escapado ao cinza e à sisudez da metrópole. 

V.

Vai entender…

Acho que é a sina do brasileiro.

O Senhor parece brincar com a gente.

Ora temos tudo. Em outros momentos, porém…

De qualquer forma – e se não for pedir muito – tomara que esteja sempre ao nosso lado e, se possível, de bom humor.

Foto: arquivo pessoal

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