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Memórias e canções

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Ilustração: tela A Persistência da Memória, de Salvador Dali (1931)

Caríssimos.

Permitam-me dar sequência à série…

Se o mundo não deu certo,

não foi por falta de trilha sonora

Assim hoje lhes trago (ou reconto) duas breves historietas.

São pertinentes ao momento que vivemos – me diz uma querida amiga.

Podem ser úteis aos nossos dias de distanciamento social:

#fiquememcasa.

Não me custa nada.

Nada lhe custa – e vai ser bom para todos!

Em fins de dezembro de 1969, pós AI-5, Gilberto Gil e Caetano Veloso foram arbitrariamente presos pelos ditadores de plantão por suposta “tentativa de quebra do estado de direito e da ordem pública, com ações objetivas e subjetivas”.

Na prisão, isolado em sua cela, Gil se mostrou bem produtivo. Estudou inglês (pois já havia o plano do exílio em Londres), leu muito e aprimorou o dedilhar do violão.

Tentou, desse modo, não perder a noção do tempo.

Fiava-se nos turnos das trocas da guarda e dos carcereiros.

Eles tinham por hábito cumprimentarem-se, uns aos outros, com a expressão:

“Aquele abraço, aquele abraço”.

Gil gostava de ouvi-los e sequer sabia que a saudação era, na verdade, um bordão do humorista Lilico (1937/1998) que fazia enorme sucesso à época – e todos adotaram para si como palavra de ordem.

– Bom dia, irmão. Aquele abraçooooo.

Quando por fim saiu da prisão, viu-se sob o sol, as cores e os ares do Rio de Janeiro.

Um impacto.

Antes de partir para o propalado exílio londrino, o baiano fez daquele pesadelo, injustamente vivido, um samba memorável.

Ouça…

Caetano, por sua vez, em outro calabouço, fazia exatamente o contrário.

Vivia a destrambelhar-se.

Pensamentos desconexos, angústias. Incompreensões.

Sentia-se dentro do nada.

Chegou a inventar manias.

Uma delas: contar quantas baratas surgiam por dia em sua cela.

Anos depois, enquanto preparava o repertório para o disco Muito (1978), lembrou-se da forte impressão que lhe causaram as tais fotografias da Terra que os astronautas americanos fizeram lá do espaço.

Ele as viu, pela primeira vez, enquanto estava “preso na cela de uma cadeia’”

Foi um revolver de sentimentos, emoções, tristezas, lembranças.

Explicou mais ou menos assim:

Como se o Caetano liberto a olhar firmemente para os anos 80 que se aproximavam céleres topasse, de repente, com o menino-baiano assustado, alheio e encarcerado.

A partir desse transbordar de aflições, Caetano  fez outra de suas mais belas canções.

Ouça…

Um outro?

Tanto faz.

Humildemente…

Que assim seja para nós também…

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