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Novamente adiada a reforma administrativa

01. Causou espanto à opinião pública nacional a entrevista que o ex-presidente Fernando Collor de Mello concedeu à Rede Globo e que foi levada ao ar nesta semana. Esbravejando em alto e bom som, dando murros na mesa, disse que as perguntas eram capciosas e que a repórter estava a serviço daqueles que conspiraram (e conspiram) contra sua idoneidade. Disse também que não estava sendo processado pela Receita Federal por sonegação de impostos e que estão, sim, em seus planos recuperar os direitos políticos e candidatar-se, ainda que possível, a algum cargo público nas próximas eleições. O ex-caçador de marajás já não demonstrava, nas feições, o mesmo vigor juvenil dos tempos pré-eleitorais. Desde o início, revelou sinais de ansiedade como se a entrevista significasse sua rentrée na cena política nacional. Talvez não acreditasse que as perguntas pudessem ser tão objetivas, embora inevitáveis, e contundentes. Descontrolou-se e logo acabou revelando o fanatismo de suas convicções e sua verdadeira face ditatorial.

02. Na manhã de quarta-feira, a assessoria de imprensa do ex-presidente divulgou uma nota, onde assinala que Collor ficou satisfeito (?) com a repercussão da matéria. Mas, contraditoriamente, conclui que não mais serão autorizadas entrevistas a jornalistas brasileiros. Algo assim como o "me esqueçam" que o então general João Baptista Figueiredo brindou os repórteres (e por extensão ao povo brasileiro) quando deixou a Presidência da República. A imprensa e a opinião pública deixaram em paz Figueiredo e nunca mais se teve notícia dele…

03. Mas, se estamos livres de Collor e Figueiredo (ao menos, por enquanto), o mesmo não se pode dizer dos políticos que nos representam em Brasília. Mais uma vez, deram provas que pensam mais nos próprios interesses do que nós, brasileiros comuns. Apesar dos esforços do Governo (e, desta vez, não se pode dizer que FHC não tenha se empenhado), protelaram a votação da reforma administrativa para abril e se negam a discuti-la, enquanto não derrubarem o dispositivo que limita o teto salarial dos servidores públicos em 10,8 mil reais.

04. De autoria do relator, deputado Moreira Franco, esse dispositivo unifica todos os vencimentos, gratificações, vantagens e adicionais pagos pelo Poder Público e os limita àquela quantia. Os parlamentares que acumulam salários e aposentadorias são os que mais relutam à votação da reforma. A resistência é grande inclusive na base governista. Aliás, é aí que se encontra a maior parte da "bancada dos aposentados". Outros deputados também resistem, pois defendem interesses corporativistas de setores diversos do funcionalismo público. A partir daí, é fácil concluir que o País acaba sempre no prejuízo.

05. As reformas constitucionais já deveriam estar concluídas, de há muito, para que pudéssemos reencontrar os trilhos do desenvolvimento com justiça social. Afinal, o presidente Fernando Henrique já pensa num segundo mandato e as tais reformas, indispensáveis, não saem dos escaninhos oficiais. Ou seja, continuam promessas de campanha. Quanto ao teto salarial de 10,8 mil reais, está pra lá de bom. Equivale simplesmente a quase l00 vezes o salário mínimo vigente no País, os 112 reais que alimentam a imensa maioria dos brasileiros.