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O carteiro e o poeta

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Foto: Os atores Massimo Troisi e Philippe Noiret em cena do filme Il Postino

“Mas eu me sinto, assim, como um barco num mar de palavras.”

A reação espontânea do personagem Mário Rutuolo, o carteiro do filme Il Postino (O Carteiro e o Poeta, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1995) parece-me exemplar para integrar o nosso manual de sobrevivência a esta trágica pandemia.

Ajuda-nos, creio, a refletir sobre os acontecimentos que ora vivemos.

A bem da verdade, essa crônica é plágio de outras tantas que já escrevi.

Réu confesso.

Não é a primeira vez que tomo essa obra como referência.

Inevitável, pois: de tempos em tempos, uma onda de inquietações me alcança – e me faz náufrago de mim mesmo.

Fico assim, entre o carteiro que nunca serei – pois, sou de natureza trapalhão – e o poeta que, de quando em quando, se arrisca a convencer alguém que ainda vale encantar-se diante do milagre da vida, e nunca desperdiçá-la…

O filme, que deve andar pelaí nos streams, inspira-se no suposto exílio do poeta chileno Pablo Neruda numa pequena ilha italiana onde faz amizade com o carteiro do lugar.

Fascinado pelo modo de vida de Neruda e pelo poder de sedução da poesia junto às mulheres, Mário, um semi-analfabeto filho de pescador que fica gripado só de pensar em enfrentar o mar, tenta entender o que é metáfora, pois está disposto, também ele, a poetar.

Apaixonado pela belíssima Beatrice, recorre ao mestre para lhe ensinar o encanto das palavras.

Neruda procura explicar tecnicamente o processo de construção de um poema, mas não obtém qualquer êxito. Ambos estão sentados na praia diante do belíssimo mar Mediterrâneo e, como último expediente, Neruda recita uma de suas poesias que relaciona o imprevisível ir e vir das águas com o inefável bater dos corações apaixonados.

Quando termina o soneto, o poeta pergunta:

“E então gostou?”

E o carteiro faz, sem se dar conta, o seu primeiro verso:

“Mas, eu me sinto assim como um barco num mar de palavras.”

E assim passa a entender o que é metáfora.

Gostaria de ter a serenidade de Neruda, mas estou longe disso.

Identifico-me mais com o encabulado carteiro.

Mesmo assim insisto, aqui neste espaço, em me espelhar no poeta e sofrivelmente anunciar, aos eventuais interessados, que o bem maior desta vida resume-se a sentimentos/virtudes essenciais como ser generoso, solidário, fraterno e abraçar-se à fé e ao amor e ao amor e ao amor…

Apegar-se às coisas simples, sensatas, sinceras…

É isso que o mundo precisa para ficar melhor (além de uma boa vacina, que nos livre deste e de outros tantos males).

É algo que não se ensina. Mas, existe em cada um de nós.

E para vir à tona, para aflorar, basta que passemos do discurso a exercitá-los em pensamentos, palavras e obras.

Quem se afastar ou negar tal concepção, desconsidere – e acredite:

Não nos merece…

 

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