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O futuro do jornalismo 2

Vamos continuar nosso bate-papo de ontem.
Se você perdeu, corre lá.
Leia "O jornalista do futuro" e volte aqui…
Se não gostar do tema, volte na próxima semana.
Até sábado, o conversê vai ser o mesmo…

II.

Uma inquietação básica:

o ambiente da redação,
a convivência entre pares – e ímpares,
as conversas,
os amigos,
os inimigos – pois, estes sempre os há -,
o pitaco nosso na matéria dos outros,
o palpite infeliz que sempre dão em nosso trabalho,
as risadas, o rush do fechamento,
o delírio em que se entra madrugada a dentro
quando a coisa parece não andar…

Seria muito romântico – nostálgico, talvez –
imaginar que não existe jornalismo
sem esse denso caldo de vida…

III.

Uma da série ‘túnel do tempo’.

Recentemente, a Universidade Metodista
foi sede do lançamento do livro "Grandes Reportagens".
Os jornalistas que aqui vieram para o debate –
Ricardo Kotscho, Luis Carlos Azenha, Geneton Moraes
e mais uma turma – foram ‘fechar’ a noite
no restaurante/boteco famoso entre a turma,
o Sujinho da avenida da Consolação.

Não fui por uma dessas tristezas tolas
que um homem da minha idade
já deveria saber como se livrar.
Enfim…

No dia seguinte, recebo um email do Kotscho
todo alegrinho a descrever a noite anterior:
"Parece que estávamos revivendo os velhos tempos".

IV.

Vamos voltar ao personagem
da reportagem do The Whashington Post.

Ao que consta, o rapaz tem 27 anos —
ou seja, não é um veterano das redações.
Muito provavelmente, conhece o lugar onde atua,
as pessoas, a vida daquela comunidade…
Mas, e os toques e retoques que resultariam
da convivência com jornalista mais vividos,
useiros e vezeiros em "tirar leite de pedra"?

(Para quem não sabe, é o jargão
que se usa quando a pauta é fraca e
o editor cobra do repórter uma grande matéria.)

Com meus 32 anos de estrada – 30 dos quais dentro de
jornais de cunho regional -, posso lhes garantir: o que mais
chega nessas redações são pautas aparentemente ‘frias’,
sem um notório interesse público. Na pauta geral dos jornais
diários, mal seriam avaliadas. É aí que entram o olhar clínico,
o senso investigativo, a vontade de transformar aquela história
comum em uma reportagem que traga benefícios
para os futuros leitores…

Não deve ser diferente na redação
improvisada do faz-tudo americano. Ou seja,
o próprio carro. Posso lhes assegurar,
nada como uma boa discussão com outros
jornalistas para que se faça a luz…
E achemos o caminho das pedras.
Ou, no caso, de uma grande reportagem…

V.

Um contraponto.

O texto que o jornalista Odir Cunha
passou para a Redação do Jornal da Tarde,
há três, quatro anos. Ele era editor do finado
Caderno de Domingo, onde fiz algumas
matérias especiais como frila.

Um alerta, na verdade, que transcrevo
parcialmente a seguir:

" O pior é que as redações, que sempre foram
uma ilha de rebeldia e inconformismo, sempre
representaram uma busca constante pelo
meio termo ideal entre a arte de escrever e
a praticidade da informação, hoje se assemelham
a repartições públicas."

"A crise do jornalismo brasileiro não é só
a crise do jornalismo brasileiro. É uma crise
da sociedade brasileira. E só vai acabar quando
os velhos e bons valores que premiam
o caráter, o talento, a criatividade e a eficiência
voltarem a prevalecer. Talvez isso não ocorra
na nossa geração. Mas, eu espero e tenho mesmo
muita fé de que a garotada que vem aí possa
fazer pelo jornalismo e pelo Brasil o que não
estão permitindo que a gente faça".

VI.

Parece que as coisas se encaixam, não?

Odir motivou-se a escrever esse texto/desabafo
quando matriculou o filho Thiago num curso
superior de Comunicação Social. O veterano jornalista
sentiu "o coração apertado" diante do entusiasmo
do menino pela futura carreira. E fez a seguinte
questão para o seu coração de pai:

— Será que ele, como tantos jovens, terá uma
oportunidade real de mostrar a sua capacidade,
de desenvolver seu talento e, finalmente,
viver dignamente de uma atividade
que terá prazer de exercer?

Desta pergunta, nasceu o texto…

VII.

Quanto ao audaz repórter brasileiro que
ousar repetir aqui a façanha do colega americano –
ou seja, trabalhar no próprio automóvel com
todos aqueles equipamentos sofisticados e caros -,
deixo aqui um alerta. Escolha bem o lugar
onde for parar o veículo. Não será nada
incomum ser vítima de um assalto e o largarem,
ali, no meio da rua. Na melhor das hipóteses,
o amigo poderá se consolar ao som daquele
roquezinho chinfrim dos anos 80:
"Pelado, pelado, nú, com a mão no bolso".