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O nome do rio

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Quem tem amigo tem tudo.

É ou não é, rapaziada?

Vô Carlito, que Deus o tenha, saía com o tal dito popular toda a vez que a corda apertava pro seu lado e a vó Ignês fazia cara feia porque o astuto queria dar uma escapada por aí a “bater pernas com os amigos”.

A lorota (ou não) era que iam tomar uns gorós nas vinícolas de Jundiaí e, na volta, jogariam tranca, até clarear o dia, no armazém do Seo Giuseppe.

II.

Aliás, foi este senhor, o Giuseppe, amigo italiano do vô, que me deu as primeiras bolinhas de gude que tive na vida.

Ele e todos me chamavam de Tchinim.

Naquela tarde que se perdeu no tempo, quando visitei a vendinha ao lado do meu avô, o cinquentão de olhar invariavelmente triste (saudade da Velha Bota, talvez?) abriu uma das gavetas do gigantesco armário localizado em um dos cantos da loja – e de lá luziram, faiscantes e belos, dezenas, centenas de pontos de luz. Pegou duas dessas preciosidades, uma mais para o azul e a outra acinzentada, e disse:

– São suas, Tchinim.

De quebra ainda me ofereceu um refresco de groselha com água mineral gaseificada.

Eu adorava.

Eita, lembrança boa!

III.

Perdoem meus devaneios, amigos. Mas, o papo de hoje não é pra ficar  nas reminiscências da infância.

É, sim, para agradecer ao amigo Poeta pela colaboração ao tema da crônica do dia.

Logo saberão qual. Acalmem-se.

Poetaço é um entendido em coisas do Nordeste. Morou três anos e tanto em Arraial da Ajuda em uma casa/nuvem misteriosa na rua ao lado da igrejinha histórica.

Além do que, como vocês bem sabem, ele faz parte da honrosa lista de meus cinco ou seis leitores diários e fiéis.

IV.

Postas essas credenciais, quero dizer que o amigo leu o que escrevi na quinta-feira sobre a ponte Jornalista Joel Silveira e, lavado e enxaguado na cultura nordestina, fez questão de me contar (e eu repasso a história ao distinto público) o porquê do nome deste portentoso rio, o Vaza-Barris, que banha os estados de Sergipe e Bahia, com 450 quilômetros de extensão.

É a seguinte…

V.

Durante anos e anos, desde idos tempos, o rio foi conhecido pelo nome que os índios lhe deram, Irapiranga. Que, segundo o meu amigo, significa “rio de águas vermelhas ou barrentas”.

Simples assim e assim foi até meados do século 20.

Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, um suposto submarino alemão torpedeou dois cargueiros brasileiros que deveriam levar mantimentos aos nossos pracinhas na Itália.

Quanta crueldade!

As embarcações naufragaram nas imediações da foz do Irapiranga, arredores do vilarejo de Mosqueiro, em Sergipe.

Depois deste “covarde ataque” (aspas para o Poeta), por muitos e muitos dias, toda vez que a maré subia e as águas do mar invadiam o leito do rio, era possível ver dezenas de barris de provimentos boiando rio adentro.

VI.

Era comum, os barris, empurrados pela força das águas, acabarem por se chocar com os rochedos que margeiam o Irapiranga e romperem-se, deixando vazar “o que seria o alimento de nossos bravos soldados”.

A partir de então, os nativos começaram a identificá-lo não mais como Irapiranga e, sim, como o rio onde vazam os barris.

– Daí, nasceu a corruptela do nome Vaza-Barris, com hífen, por favor, que você não usou no texto de ontem.

VII.

O Poeta é um tanto formal, gosta de frases de efeito, preza o rigor do idioma. Mas, é meu parça, amigo, irmão, camarada. Por isso, o agradecimento.

Inestimável sua colaboração de hoje, acrescento.

Já imaginaram eu ter que, aqui, comentar o pândego pronunciamento do Ilegítimo presidente que ontem, a propósito do feriado de 21 de abril, se comparou a Tiradentes?

Ninguém merece.

A que ponto chegamos!

Obrigado, Poeta.

É mesmo como dizia o saudoso vô Carlito: quem tem amigo tem tudo.

*(foto: orla por do sol/aracajú/arquivo pessoal)

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