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O que faltou dizer…

a respeito de Inezita

É algo bem pessoal.

Permitam-me lhes contar:

Dona Yolanda, minha mãe, se sentia amiga de Inezita.

Identificava-se com ela.

Eram contemporâneas.

Talvez, por isso.

A mãe era de 1924. Inezita, 1925.

Explico logo para evita mal-entendidos:

Elas não eram parceiras de trocar confidências.

Na verdade, não se falavam.

Quando havia o encontro semanal, a mãe só ouvia. Em respeitoso e indecifrável silêncio.

Talvez rememorasse a juventude de tecelã nos teares da Ramenzzoni. Talvez os bailicos que a fábrica promovia no salão social onde conheceu o Aldão, meu pai.

Não sei em que pensava. Nunca falou. Mas, desconfio, era por aí.

Esses encontros eram sempre nas manhãs de domingo.

Como aconteciam?

Diante da TV.

Dona Yolanda, na sala do pequeno apartamento onde viveu os últimos 30 anos de vida.

Inezita, na apresentação do programa Viola Minha Viola.

A mãe gostava de ouvi-la cantar Lampião de Gás.

Mas o que valia mesmo era a boa companhia que, dizia, Inezita lhe fazia naquela hora e tanto.

Depois que o pai se foi (setembro 1999), a mãe insistiu em permanecer no apartamento da Avenida Álvaro Guimarães. Queria o seu espaço, mesmo que sozinha e com os avnços da degeneração da retina que lhe complicava – e muito – a visão dos dois olhos.

Ali, era o seu lugar, dizia.

Ali, se dizia feliz.

Eu morava perto.

Todas as manhãs, antes de ir para o trabalho, passava por lá para bate o ponto e saber se estava tudo nos conformes.

Ela me esperava com o café já estava pronto, bem do jeito que eu gosto. Coado, mais pra forte.

Nas manhãs de domingo, porém, tínhamos um ritual diferente.

A mãe acordava cedo – e ligava a TV na missa transmitida pela Cultura diretamente do Santuário de Nossa Senhora Aparecida – uma das devoções da mãe.

Eu chegava depois das nove horas.

Ela já estava no sofá quietinha, mais ouvindo do que vendo Inezita e os convidados.

Pouco conversávamos.

Pontuávamos alguns assuntos e simplesmente deixávamos correr os minutos, as horas  na companhia um do outro.

Na sequência, víamos o programa do Rolando Boldrin – e só aí, lá pelas onze, pensávamos como e onde seria o almoço e o restante do nosso domingo.

Ontem escrevi uma crônica sobre Inezita aproveitando o ensejo do 8 de março – Dia Internacional da Mulher. Recebi muitos comentários e elogios pela lembrança – aos quais agradeço de todo coração.

Enquanto lia cada um deles, as recordações daquelas abençoadas manhãs de domingos me invadiam na mesma proporção que a imensa saudade da Dona Yolanda.

Olaiá…

Preciso escrevê-la, pensei.

É justo compartilha-las com meus amáveis cinco ou seis leitores.

Afinal, o tempo, alguém já disse, pode ser absolutamente igual para os relógios. Mas, nunca é o mesmo para cada um de nós.

Ambas se foram em 2015.

Inezita, em março.

A mãe, em junho, três meses depois…

 

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