UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: Walter Silva)
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ENQUANTO ISSO, ao mesmo tempo, em algum lugar da metrópole…
Lucilinda, o nome.
Forte, sonoro, retumbante.
Quase um título de nobreza para quem nasceu, como ela, sob o escaldante sol do nordeste. Aliás, o nome lhe faz inteira justiça. É literalmente uma Lucilinda e se outros nomes e sobrenomes possui, certamente, de nada lhe valem. Lucilinda, só e basta. Todos se encantam assim onde quer que chegue.
Sorriso largo a expressar uma cativante simpatia. Mais para cheinha, de irresistíveis formas arredondadas. Morenice arrebatadora.
Pois esta é a Lucilinda, de vestidinho branco, óculos escuros e sensualidade à toda prova, que sai do interior abafado do Fuscão 71, e que para como Deus quer, no portão principal do “Gera Park”, onde Felisberto trabalha lá se vão uma penca de anos.
Depois dessa aparição, a vida do gerente geral, como se auto-anuncia Felisberto, nunca mais será a mesma. Diante daquele mulherão com jeito de menina, ele se descontrola, fica tenso e teso.
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Antes de falarmos do turbilhão de emoções e sentimentos que invade su’alma, vale conhecer o pacato cidadão que atende pelo carinhoso apelido de Felisba, o implacável.
Está próximo dos 40, não é letrado, nem tem grandes ambições. Sempre trabalhou duro para sobreviver. Quando veio dos confins do Vale do Paraíba, da histórica cidade de Bananal (onde pousou o Imperador antes de seguir viagem para São Paulo e proclamar a Independência), perdeu de vista os irmãos e com a mãe só fala mesmo por telefone nessas datas formais. Natal, Ano Novo, o dia da própria, principalmente no dia da própria.
O “Gera Park” da avenida D. Pedro, Ipiranga, é sua vida. Lá ele mora num improvisado cômodo e cozinha e trabalha diuturnamente. Lá os amigos se reúnem para por a conversa em dia, discutir futebol, política e até religião.
Felisba só não fala de mulher.
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É uma questão “fechada”. Uma vez ou duas por mês (dependendo do montante das “caixinhas” e do desejo), ele visita um “inferninho” na rua Domingos de Moraes, resolve o que tem para resolver, preferencialmente com Cidinha, que tem um jeitinho especial de tratar das coisas.
É vapt-vupt.
Volta depois para a rotina do estacionamento, sem altos nem sobressaltos, a bem da verdade como lhe convém e gosta.
Apaixonou-se uma vez. “Solamente una vez”, como diz a canção, “y nada mas”. Tinha 25 anos e se enrabichou por Silmara, oito anos mais nova que ele. Foi coisa de meses – três ou quatro. Mas, o suficiente para lhe trincar a alma e a vida. Imaginava-se correspondido, pensava em casar, filhos, esses badulaques todos do mundo e da vida.
Estava entusiasmado quando soube pela própria sogra que Silmara, a meiga e angelical Sil, e o padrasto fugiram sem deixar vestígios, paradeiro e esperanças.
A coroa ainda tentou uma aproximação.
— Eles lá e nós aqui. Podemos tentar nos consolar, o que acha?
Felisba balangou a cabeça.
Fez que não entendeu – ou não entendeu mesmo. Mas, em questão de dias, assimilou o golpe. Resignou-se ao imaginar o desespero da ex-sogra que perdeu a filha e o marido.
— Essa coisa de amor não é para mim. Não sei lidar com isso. Se cuidar da minha vida do meu jeito.
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Sem correr riscos de qualquer outra desilusão amorosa seguiu em frente. Os anos se passaram, ele nem percebeu. Ganhou alguns quilos, perdeu o topete à la Elvis. Mas não tinha do quê e o porquê se queixar.
Isto até Lucilinda aparecer.
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O que você acha?