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O que o tempo leva… (23)

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UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: Reprodução)

 

A quantas anda o noivado? – perguntam os enxeridos. Sr. Camargo, impiedoso: que noivado? Felisba é o novo Berto Carreiro do lugar…

 

Sejamos sinceros.

De algumas semanas para cá, um dos assuntos preferidos da moçada era o new look do Felisba, agora também chamado de Berto Carreiro.

O que fez o moço mudar tanto assim?, a pergunta que não quer calar.

Por isso, o espanto foi geral quando o boca-mole do Sr. Camargo tocou no nome de Lucilinda, a morena do Fuscão que, nas redondezas, todos cobiçavam.

Queriam maiores detalhes da conquista e há quantas andava o namoro.

Camargo é impiedoso com suas brincadeiras:

– Noivado, meus caros, noivado.

– Noivado? – surpreende-se Felisba que, até agora, naquele sábado ensolarado, só tivera olhos para uma lasca de picanha que teimava em não assar devidamente.

Sem jeito, não sabe agora como negar as evidências quando que o nome da amada já está na roda dos faladores.

Esquece as especiarias da churrasqueira, abre mão da cerveja. Desconsola-se.

Lastima ter de desmentir toda a boataria.

Ou pelo menos parte dela.

Prefere calar-se, fingir naturalidade e deixar a bola rolar.

– Bem que eu percebi – diz Tonhão, um arremedo de inspetor de quarteirão e chapeiro na padaria do Zé, fofoqueiro que só:

– Aquela mulher, com aquele sorriso. Não podia estar a seco por muito tempo. Tinha que ter alguém no desfrute ali. Só não sabia que o felizardo era o Felisberto, nosso amigo Berto Carreiro. Quietão, quietão, hein, traçando a carne toda.

Felisba, o gerente geral, ficou indignado com o comentário.

Também pudera. Ô baixaria! Comentário tosco em plena churrascada.

Aonde já se viu por em jogo a honra, a pureza de Lucilinda. Deixou claro que não gostou da abordagem. Mas, nem chega a retrucar. Sr. Camargo fala por ele:

– Olha o nível, o da chapa-quente! Amanhã ou depois, o nosso Berto Carreiro apresenta a moça como sua senhora e aí: com que cara você vai ficar?

No arremate, Camargo revela todo o cinismo que é nato e peculiar:

– Pelo que conheço do meu melhor e único funcionário, esse namoro, quer dizer noivado, é coisa séria. Soube, não digo a fonte, que até os nomes para os filhos já estão escolhidos. Sei também que o Felisba é muito querido por toda a família da senhorita Lucilinda.

Ele não se anima em negar toda aquela arenga.

Pela primeira vez na vida, sente-se invejado por todos ali.

Logo ele a  quem poucos se dignavam sequer a ouvir. E quase sempre foi ponto de referência para alguma piadinha doída, preconceituosa. Logo ele que nem sequer pode mudar a estação do rádio do Gera Park sem passar pela aprovação do chefe e dono.

(Só que Sr. Camargo vinha duas ou três vezes por semana. Ele, não. Vive ali e, quer saber, nada ver música orquestrada. Pel’amor!!!)

Agora, até o Sr. camargo está ali a admirá-lo e, por que não, invejá-lo.

Aproveita, então, para ir à forra.

Ajeita o colarinho, e dá um tom de discurso à sua fala:

– A coisa é séria mesmo. Amigos, quero deixar bem claro que a madame Lucilinda é moça de respeito, séria, trabalhadora e da maior moral. Não vou aceitar troçagem ou coisas assim com o lindo nome de Lucilinda, por favor.

Para todos os efeitos, para quem mora nas cercanias do Parque da Independência, o noivado de Felisba e Lu agora já é oficial.

Só a moçoila não foi informada a respeito.

Já o Sr. Camargo, que lástima, vai espalhando à boca pequena que Felisba, o Berto Carreiro, está delirando. E que a história real não é bem essa.

Aos poucos, e no rastilho desse diz-que-diz, todos no pedaço se divertem com a farsa.

A própria Lucilinda ouviu uma versão debochada no cabeleireiro. Criticou duramente a zombaria. Falou que não tinha nada a ver tripudiarem o rapaz já entrado em anos. Que nunca fizera mal a ninguém. Menos ainda a ela, sempre tão cordato.

Só não teve coragem suficiente para alertar Felisba, a cada dia mais falante, mais seguro de si e do tal noivado.

Numa daquelas manhãs, chegou mesmo a presenteá-la com um bombom Sonho de Valsa.

-Vi na televisão… Assim… Dois namora… Quer dizer, amigos… Assim…Tó! É pra você.

Disse e abaixou a cabeça.

Lucilinda enterneceu-se e lhe beijou o rosto como agradecimento.

Como arrancá-lo dessa fantasia?

 

 

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