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Os doze tóins…

Estava em Veneza. Na Praça São Marcos.

Foi quando me ocorreu de subir na torre da igreja, o cartão postal de um belíssimo cenário. Até aí nada de anormal. Qualquer turista que chega à praça logo entra na fila para conhecer o tal monumento por dentro e ter uma visão inesquecível de uma cidade inesquecível.

Eu e minha trupe andávamos por aqueles becos e ruelas, serpenteados pelas águas de canais, há dois ou três dias. Fazia um frio considerável, posto que era inverno. O que dava ao lugar alguns pontos positivos, segundo me disse o garçom de um café local. Primeiro porque há todo aquele charme dos casacos e agasalhos, o estilo europeu que não se encontra por aqui, nem indo a Campos de Jordão em julho. Segundo, porque os vinhos tintos e os conhaques se tornam mais apropriados — e aveludados – à degustação. Ninguém fica com ares de breacos, a não ser que “exagere exageradamente” na dose. E aí, um cuidado maior no trança pernas habitual dos bebuns, pois as águas dos ditos canais podem ser o limite nada, nada recomendável. Aliás, é exatamente esta a origem do terceiro quesito favorável – e impensável a princípio, sempre que comenta sobre o fascínio de Veneza. Disse-me o distinto garçom (quase que o chamo de maitre, só para não repetir a palavra garçom, que bobagem!) que os dias frios e de sol raro livram o turista de um insuportável mau cheiro que exala precisamente dos canais.

Que coisa deselegante estou a dizer!

Compreenda-se que repito o que ouvi do moço (que agora nem acho mais tão distinto), mas não sei se precisava incluir numa crônica que se anunciava, a princípio, tão poética…

Enfim, voltemos à torre…

Lá em cima, vislumbrei uma paisagem magnífica. Fiquei embevecido e agradeci aos Céus por tamanho privilégio. Para um garoto do Cambuci, neto de italianos, entenda-se: não foi uma trajetória tão simples estar ali e há aquele coração mole, natural dos oriundis, mesmo que seja de terceira geração como eu.

Os Céus, os anjos ou Alguém de prestígio lá em cima parece ter ouvido os meus ais de encantamento. E quis coroar momento tão singular, e único. Uma chuva de badaladas rompeu forte naquele preciso instante.

TÓIM… TÓIM… TÓIM…

Ao todo, foram doze “tóins” ensurdecedores.

Estava em baixo dos enormes sinos da secular igreja, meus queridos. Era meio-dia — e o sacristão, o sineiro, o pároco da aldeia ou coisa que o valha só cumpriu sua obrigação ao bimbalhar ferozmente o carrilhão.

Momento único, pois sim…

Saí de lá tontinho de tudo – mais do que habitualmente sou –, com um TÓIM intermitente em um dos ouvidos, mas com lágrimas nos olhos.

Acreditem. Às vezes, sou tão sentimental…