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Relatos de um viajante parvo (5)

Não, não, meus caros…

Não foi o Globo Repórter de idos de novembro que definiu o roteiro de minhas recentes andanças pela região de Provença, na França.

Eu sei que é o que andam pela aí, em tom debochado e provocador, alguns dos meus melhores amigos.

Quem tem amigo assim, às vezes penso, não precisa de inimigos, concordam?

Nada contra as dicas que a Glória Maria deu naquela sexta-feira.

Não é isso…

A princípio, minha curiosidade pela região foi instigada por duas magníficas obras literárias, de Alphonse Daudet (1840-1897), que li em tempos distintos de minha vida – uma quando andava por volta dos quarentinha (“Cartas do Meu Moinho”) e outra mais recentemente (Tartarin de Tarascon).

É bem verdade que as duas adapatações foram feitas por dois notáveis cronistas (de quem sou fã de carteirinha): os saudosos Paulo Mendes Campos (1922-1991)
e Rubem Braga (1913-1990), respectivamente.

Para que justiça se lhes faça, transcrevo a seguir brevíssimos trechos de cada uma desses livros, onde há a descrição das cidades que visitei.

Melhor referência, impossível; concordam?

I – Cartas do Meu Moinho

“Quem não conheceu Avignon do tempo em que serviu de residência aos papas (de 1309 a 1378), nada conheceu. Pela sua alegria, sua vida, sua animação, suas festas, nunca houve cidade parecida. De manhã até a noite, eram as procissões, as romarias, as ruas atapetadas de flores, cardeais chegando pelo rio, bandeirolas ao vento, canoas embandeiradas, soldados do Papa cantando em latim e as matracas dos frades a pedir esmola. (…) No ar, o repicar dos sinos e os tamborins sempre a ressoar do lado da ponte. Em Avignon, quando o povo está contente , é preciso dançar; como nesse tempo as ruas da cidade eramm por demais estreitas para a dança provençal, flautas e tamborins postavam-se na Ponte de Avignon, pegando o vento fresco do rio, e era dançar, dançar, dia e noite… Ah! Que tempo feliz! Que cidade feliz!”

II – Tartarim de Tarascon

“Acontece que todos os tarasconeses são caçadores, do mais novo ao mais velho. A caça é a paixão de Tarascon, desde os tempos mitológicos em que um monstro chamado Tarasca infundia terror nos pântanos daquela cidade da Provença e os moradores organizavam batidas a sua procura. E assim, todo domingo bem cedo, os tarasconeses pegam suas armas e cruzam os muros da cidade em meio a uma algazarra de cães, batedores, trompas e buzinas de caça. Um espetáculo magnífico! Infelizmente, não existe caça. Nenhuma caça.

Por mais idiotas que fossem os animais, com o tempo eles acabaram ficando desconfiados. Num raio de cinco léguas em torno de Tarascon, os campos ficaram desertos, os ninhos abandonados. Nem um só melro, uma codorna, uma lebre, um camundongo ousava permanecer naquelas redondezas, embora as lindas colinas tarasconesas fossem bastante tentadoras…”

III.

Eis aí, meus caros cinco ou seis fiéis leitores, minhas sugestão de viagem e de leitura.