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Santa Rita, olhai por nós!

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Romeiros pelas ruas de São José do Barreiro/Arquivo Pessoal

Que bom ficar assim horas inteiras em dias lentos e vagos… A olhar a chuva fina que, pouco a pouco, engole as silhuetas das montanhas até chegar à pacata aldeia com pingos que parecem não molhar. Mas silenciosamente encharcam as folhas, os bancos da praça, o teto do casario, as torres da igreja e a nossa roupa nesse fim de verão com jeito de inverno.

Busco abrigo ali no interior do templo centenário. Vazio e sombrio no fim de tarde igual a tantos outros por aqui.

Cheiro de velas queimando a um canto.

Me envolvem o silêncio e o semblante austero das imagens de Antônio, Benedito, José (que ocupa o altar-mor),  Maria, o Senhor na Cruz – e, de repente, paro diante de uma rara representação de Santa Rita de Cássia.

Pode ser só impressão minha, mas imagino que a santinha sorri diante da minha surpresa.

Veste um manto marrom, com frisos dourados; em uma das mãos o crucifixo, na outra a rosa estilizada.

Demorei a reconhecê-la.

A chaga da coroa de Cristo na pequena testa é o indicativo de ser Margheritta, da pequena cidade de Cássia, norte da Itália, onde ainda repousa seu corpo insepulto  sob uma cúpula de vidro.

Estive em Cássia, vi a santa num ritual comum a tantos e tantos peregrinos.

Mas, a cena que mais me comove é a da mãe e o irmão, o Tio Neno, a rezarem para “a senhora das causas impossíveis”. Que guardasse as crianças dos males do mundo e lhes iluminasse o caminho do amor, da verdade e da vida.

Foi há tantos e tantos anos.

Eu era criança.

Ainda me chamavam de Tchinim.

E, confesso, não me sentia lá muito à vontade naqueles momentos.

Temor do sobrenatural, talvez.

Desde garoto, quase tudo me assombra.

O que não entendo, estranho.

Havia uma imagem da santa num altar improvisado sobre uma camiseira em um dos cômodos na casa da vó Ignês e do vô Carlito.

Era enorme. Acho que maior que esta que vejo agora.

Diziam que o tio era um fervoroso devoto.

Um homem de fé!

Dia desses uma tropa de romeiros passou pelas estreitas ruas de São José do Barreiro. Iam para a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, também no Vale do Paraíba. Fizeram uma parada por aqui.

Ao vê-los passar, alguém na praça falou:

-São homens de fé!

Lembrei do tio.

Ao acaso, penso nessas recordações na penumbra da igrejinha diante do pequeno altar lateral.

Tento comparar a expressão das duas estátuas. A da casa da vó inspirava sofrimento. Talvez fosse essa a causa do meu desassossego. A que vejo hoje é mais complacente, traz uma generosidade implícita em suas feições.

Sugere a transcendência natural que nos propõe a fé. No divino e nos homens – por que não?

Volto a contemplá-la outras tantas vezes.

Diante dela, faço uma brevíssima oração. Em agradecimento ao que vivi e ao que está por vir.

Peço perdão por, às vezes, faltar-me aquela fé bendita que, dizem as escrituras, “move montanhas”.

Nesses tempos turvos, em que um opressor vale mais do que um professor, tento me valer da serenidade para seguir em frente e ter a inatingível cordilheira ao alcance dos olhos e dos sonhos.  Esse relampear de tristezas e mal-feitos é passageiro, irmãos. Logo, logo, mercê de nossa luta, o sol a brilhar intenso, vívido… Para mim, para você, para todos os brasileiros.

Que Santa Rita, olhe por nós!

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