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Não depende de nós, infelizmente.

"Existe sempre um bom motivo para você ser o culpado."

01. Na manhã de quarta-feira, a propósito de um assunto nada jornalístico, digamos assim, a repórter Marta Teixeira sacramentou esta frase lapidar que bem demonstra o aspecto Lei de Murphy que ora vivemos, particularmente em São Paulo e mais amplamente no Brasil neste fim de milênio.

02. A contudência da afirmação logo despertou minha atenção para algumas notícias, e mesmo para propagandas institucionais, que vêm ocupando a cada dia mais espaço em nossos meios de comunicação mais populares como rádio e TV. São aquelas reportagens que mostram o consumidor como grande adversário para combater a inflação que nos ameaça. Ele pesquisa preço, faz contas de chegar, muda a marca dos produtos que ousam ficar mais caros e cousa e lousa. São reportagens que, em última análise, mostram como deve ser o comportamento ideal para que o brasileiro supere este momento de crise. Há também uma série de anúncios que proclamam a seriedade do Governo e que, apesar da crise, a população deve sentir-se tranquila, pois está nas mãos de homens de rigor espartano e, deduz-se, competentes.

03. Teimo em ficar com a impressão, ao ver tais cenas, que se rezarmos por essa cartilha de bons modos, se formos disciplinados e obedientes, certamente o País vai se safar desta para uma melhor. A inflação, imagino, não vai corroer nosso salário, embora tenha ficado na casa dos 4,4 por cento, já em fevereiro. E a dobrada PSDB/PFL pode perpetuar-se no Poder por mais uma carrada de anos. Esta contextualização me faz crer que a repórter tem razão. Se bobearmos, com a ajuda dos mass-media simpáticos a FHC e Cia., o culpado da crise seremos nós. O que de resto não é nenhuma novidade. O Governo. Bem, o Governo, está fazendo o melhor.

04. Aliás, não são outros critérios que movem a equipe econômica. Sempre que aparece um problema de caixa, lá vêm os magos das finanças com a alquimia para todos os males do País: aumentem-se os impostos (olhe o caso da CPMF, mais cara e eternizada) e danem-se a classe média, o empresariado de pequeno e médio porte, as causas sociais, as obras e tudo o mais que nos diz respeito.

05. Não foi em vão que o primaz do Brasil (e novo arcebispo de Salvador), D. Geraldo Majella Agnelo criticou, nesta semana, a política econômica do Governo e o desemprego que grassa implacavelmente por todo o País. "É uma grande preocupação para a Igreja que a preservação do Plano Real se dê à custa de um maior sofrimento da população." E concluiu: "O homem não pode ser relegado a segundo plano."

06. As considerações de D. Agnelo (que não mereceram sequer resposta do Planalto) nos deixam a esperança de que nem tudo está perdido — e que há nomes de respeitável prestígio que sabem: não somos culpados por esse Brasil de tantas misérias e trambiques. As vozes da resistência falam por nós. Alertam para a realidade que o Governo e os seus preferem não ver, mas que se revela a cada dia mais violenta e ameaçadora.