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Os estudantes e as eleições

"O importante não é o que eu tenho, e sim o que posso fazer com o que eu tenho" (Benjor, na música manifesto Charles Júnior)

01. Estudantes, estudantes. Como entendê-los? Mas, se não prestarmos atenção neles, como saber o que vem por aí. De uma forma ou de outra sempre estiveram presentes, com coragem, determinação e outro tanto de inconseqüência (aliás, própria da idade), nos principais acontecimentos da história do País nos últimos 40 anos.

02. Para fazer um breve retrospecto, poderia citar:
* os confrontos da rua Maria Antônia, nos idos de 68, quando enfrentaram o tacão da ditadura militar na tentativa de evitar o mal maior do Ato Institucional nº 5 que cassou o direito de liberdade de expressão e cidadania dos brasileiros;
* a estóica resistência dos anos 70 que consagrou a fala do beatle John Lennon —
the dreams is over. Mesmo sem ver qualquer luz no fim do túnel, os estudantes continuaram acreditando e mobilizados em torno da redemocratização do País; e aqui cabe um parênteses: nesta jornada, os jovens tiveram a parceria de artistas e intelectuais e marcaram presença em momentos marcantes como nas mortes do operário Santo Silva e do jornalista Wladimir Herzog e durante o processo que consolidou a anistia, ampla e irrestrita, aos exilados políticos;
* também estiveram nas greves dos metalúrgicos do ABC em 1978;
* nos anos 80, os estudantes estavam nas ruas à frente da mobilização pelas Diretas-Já e fizeram uma grande festa quando Tancredo Neves venceu Paulo Maluf no malfadado Colégio Eleitoral, de triste memória;
* os caras-pintadas deram o tom e a cor das manifestações contra Fernando Collor, manifestações que culminaram com o impeachment do primeiro presidente eleito pelo voto direto desde 1960.

03. Fiz todo esse breve relato e explico o porquê. Nesta semana, alguns estudantes de universidades da região vieram à redação de Gazeta do Ipiranga para fazer uma entrevista sobre a participação do jovem na política nacional. Os próprios entrevistadores mostravam-se céticos com relação à consciência e atuação de seus contemporâneos especificamente nesta eleição. A grosso modo, diziam claramente que a maioria dos estudantes não está nem aí e vai votar por votar. De resto, deram a entender que a população, como um todo, não vê o voto como um instrumento eficaz de mudança e participação social.

04. Acho que me alonguei um tanto na resposta — sabe como é, jornalista não pode ver um microfone que desanda a falar. Na síntese da síntese do que disse, penso que fui na contramão dessa teoria. Hoje o ato de fazer política é absolutamente diferente. O simples fato de não se filiar a qualquer partido já é um gesto político — e de descrédito dessas associações que, de resto, salvo raríssimas exceções, são mesmo de pouca fé. Agora mesmo sei que andam circulando pelos campi universitários as urnas de um plebiscito sobre a Alca, com apoio de entidades de prestígio como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. E os estudantes estão lá votando. Nesta semana, na Universidade Metodista, a presença do candidato ao Senado, Aloísio Mercadante, reuniu centenas de estudantes numa palestra que atrasou hora e meia e teve outro tanto de discussão política. Ademais, só o fato de estarem agora aqui me entrevistanto já demonstra um envolvimento com o social, claro que menos pelo entrevistado e mais pelo interesse dos próprios estudantes.

05. Melhor que seja assim. No dia em que o jovem brasileiro deixar de sonhar e, a seu modo, deixar de acreditar no País, aí sim o Brasil estará no buraco…