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Poesia numa hora dessas…

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Foto: Jô Rabelo

Vejo o Gabeira na TV a dizer que precisou se preparar fortemente para comentar as insanidades do dia.

Desanimo.

Tão cedo nada muda.

Triste constatação.

Desligo a TV, vou à estante e busco o espaço onde estão os livros de Drummond, nosso poeta maior.

Escolho aleatoriamente o exemplar de Paixão Medida (1980), abro numa página qualquer.

E cá está…

Um naco de poesia para (tentar) salvar o fim de semana.

IGUAL-DESIGUAL

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho ímpar.

 

* Carlos Drummond de Andrade

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