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Ivani/Ivana/Ivan

Acho que hoje é um bom dia para lhes contar a história de Ivani.

Juro que é verdade – e dou fé.

(…)

Anos 70.

Ivani. Assim que nós a chamávamos naquela gráfica, na Grande São Paulo, onde, às quintas desde cedo, eu, o AC, o Mauça e outros poucos levávamos o embrião diagramado do nosso pulsante jornal semanal.

(Circulava às sextas cedinho, cedinho…)

Ela era past-up (uma função que, desconfio, nem mais existe; era uma espécie de arte-finalita, montando na ponta do estilete, um a um, o diagrama de cada página da edição). Era cuidadosa no ofício; por vezes, brincalhona e gostava de desenhar.

Desenhava super bem.

Vez ou outra nos mostrava seus esmerados trabalhos, feitos a partir de bico de sua caneta nanquim. Minúsculos pontos que, reunidos, revelavam um rosto, um cenário; enfim, uma imagem. Quase sempre impactante.

(…)

Fim da década.

Nossa Gazetinha vivia tempos de prósperos. Inclusive para uso próprio montou uma pequena oficina, assim só nos deslocávamos para a mesma gráfica com os fotolitos prontos do jornal. Era chegar e rodar.

Past-up, fotomecânica e revisão, agora, eram feitos no velho casarão de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.

O sonho era ter nossa própria rotativa. Coisa que nunca aconteceu.

Enfim…

(…)

Dois ou três anos depois…

Surge uma vaga na oficina – e eis quem aparece para preenche-la: Ivani.

Só que Ivani não é mais Ivani. É Ivan. Um rapazote de barba rala, cabelos em desalinho, jeans, camiseta que os hippies à época faziam para descolar um troco, um colete folgado (que escondiam os seios) e a mesma simpatia de outros tempos.

Quem não a/o conhecia, verdade verdadeira, não acreditava na história de documentos de identidade rasurados (que apagavam a letra i). Para esses, quem ali estava era o Ivan.

Nós que o conhecíamos – como disse, apenas uns quatro ou cinco participavam do fechamento às quintas -, mesmo nós, só tivemos certeza de que Ivani e Ivan eram a mesma pessoa quando o vimos, num intervalo entre uma página e outra, desenhando a bico de caneta nanquim a manjada silhueta do Museu do Ipiranga…

Os desenhos de Ivani/Ivan eram mesmo impactantes. Como ela/e, ao enfrentar a barra que enfrentou em plenos anos obscuros do arbítrio e da incompreensão; muitos e muitos anos antes da Ivana/Ivan da novela da Glória Perez…

Ainda nenhum comentário.

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