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O que o tempo leva… (15)

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UMA NOVELA BLOGUEIRA (Foto: Wilson Luque)

Deixe de arengas, rapazote.

Haveria de me dizer, se ouvisse minhas platitudes, o arcano Zé Jofre, rodeado de Olivettis (toc toc toc) na velha redação de piso assoalhado, onde me iniciei nos íngremes, mas provocantes, caminhos da reportagem.

Ali, conviviam duas gerações de jornalistas, os forjados pela prática e pela lida e a nossa, os diplomados nos bancos universitários, jovens e inconsequentes.

Aos quais, Jofre chamava, por carinho e deboche, de “burguesinhos alienados”.

Justiça se lhes faça, Jofre e os iguais, ali, eram os doutos; nós, os aprendizes.

Jofre, é bom que o diga, era severo socialista.

Foi o único verdadeiro e autêntico socialista que pessoalmente conheci desde então.

Meses depois de se aposentar também o Velho, renitente solteirão, bateu-se em retirada da metrópole.

“Pra mim, já deu”.

Nada mais disse, nem precisou para que todos, veteranos e noviços, entendessem.

Juntou os trapos e bandeou-se para Bonito, pantanal matogrossence, em busca das suaves manhãs dos dias iguais.

Morreu por lá, de morte morrida – e só viemos a saber ano e tanto depois.

Não houve pranto, pois.

Lamentamos, resignados a inefável perda de um dos nossos.

Que o Senhor o tenha na santa glória, mesmo sendo ele um agnóstico convicto.

Recuerdos, recuerdos…

No jipão, montanha abaixo, proeza: alguns dormem.

(Não sei como conseguem!)

Outros consultam o celular.

Há os resmungos naturais. O sinal caiu, voltou. Caiu, voltou. Caiu…

Ninguém se mostra para conversinhas brejeiras.

Atento à sinuosidade da estrada, Felisberto faz uma performance segura. Preocupa-se.

Pudera!

O sol já despegou do azulado cenário, e o trajeto é luscofusco, curva atrás de curva.

Não é preciso ser um observador dos mais atentos para perceber que todos estão ávidos por chegar a Barreiro.

Estamos todos estropiados.

Qual minha surpresa!

Assim que desembarcamos na praça da cidadezinha, o ânimo do pessoal se refaz de pronto.

Quanta celebração!

Uhuhuh!

Valeu! Valeu!

Adorei!

Nossa, que máximo!

Foi muito legal!

Alguém – e sempre existe um alguém – propõe criarmos um grupo no Whats para futuras incursões nas mil e uma faces do ecoturismo.

– Só preciso de uma lista com o número do celular de cada um e com DDD, hein!

Logo temos uma voluntária para ser a administradora do grupo.

Uau!

Reparo que os guias estão, digamos, impacientes. Querem, por justas razões, se livrar dos estorvos.

No meio do fuzuê generalizado, o Filósofo é o único que se encaminha em direção ao nosso grupo.

Traz algo em suas mãos.

Para na minha frente.

Volta a sorrir, e diz:

– Italiano, você é escritor é? Danado. Nem me disse ou me disse e eu que não tomei tento?

Não disse. Ameaço negar pela terceira vez. Afinal, me chamo Pedro.

Mas, ao redor, percebo a curiosidade geral.

Estão admirados, e curiosos.

Sou um fraco, me perdoem.

Deixo que entendam como quiserem.

Ou seja, pensem que sou mesmo o que não sou. Um escritor.

Se ainda não ouviram falar das obras literárias (que não escrevi), o problema não é meu, certo?

Felisberto, o maroto sabe das coisas, me passa o pacotaço que logo desembrulho.

É uma pasta marrom, linda, chiquérrima. Guarda uma papelada considerável.

O motorista-filósofo-mensageiro completa o recado:

– É pra você. O Compadre Tio Carlos falou que o tesouro é seu. Presente dele pra ti. Pode fazer o que quiser com o tal do folhetim que ele escrevinhou. Se for publicar, vamos ficar mais felizes ainda. Não li, mas acho que é uma linda história.

PAUSA DRAMÁTICA

Um tanto embarafustado das ideias e bem desnorteado com a honrosa incumbência, o nosso (quase) herói e cicerone, o jornalista Pedro Paulo Avezzani, vulgo Italiano, sai de cena. Num passo lépido e fagueiro que ele supõe incorporar o galã e notável ator Carlos Artúlio, mas que a mim (por favor, não comentem com ele) só faz lembrar, quando muito, o divertido trotar do humorista Ronald Golias ao encerrar a sua (dele) participação semanal na Praça da Alegria…

Quem se lembra?

Ops.

Devo-lhes um adendo. Não me apresentei.

Entendam: não estava previsto a aparição de um narrador sobressalente neste momento do entrecho. Também fui pego de surpresa. Me chamaram às pressas para fechar a primeira parte do tal folhetim.

Mas…
… o que não me disseram e, imagino, não estava mesmo no roteiro é essa chuvinha fina fora de hora que deixa a noite um bocadinho mais nostálgica na singela São José do Barreiro.

Ainda nenhum comentário.

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