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O que o tempo leva… (41)

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UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: Arquivo Pessoal)

 

DIZ A LENDA: O amor, em seu estado latente e inspirador, não dura mais do que 40 luas. Ou seja, três anos, um mês e onze dias…

 

Entendi que não poderia viver mais daquela forma, algo desesperada, a deixar os anos que me restam passar por passar.

Não foi difícil chegar a conclusão de que nada mais me prendia àquele mundo artificial, virulento, de valores alterados.

Não vou agora esconjurar a metrópole, o país, o mundo em razão das minhas idiossincrasias.

Sempre fui movido à paixão. No trabalho, no amor, na vida.

Decididamente não era o que estava acontecendo – e ponto e basta.

O trabalho andava pelas tabelas, como já disse.

No amor, intuí que tínhamos, eu e ela, expectativas inversas. Naturais, hoje vejo, à idade e aos projetos de cada um.

Ela me conheceu no palco.

Como me veria fora dele? Longe de toda essa entourage que nos mitifica sem distinção se somos artistas ou arteiros.

Ela também tinha seus desejos em vários níveis – e muitos e imensos. Profissionais, pessoais.

Sejamos realistas.

Certamente, meu plano de voo não tinha o mesmo alcance.

De repente, eu iria ser um entrave, uma âncora.

Eu me conheço, possessivo que só.

Vem a mim o vosso reino.

A vida, portanto e resumindo, assim como a Lua, andava fora de curso.

Há uma velha lenda indígena que afirma:

O amor, em seu estado latente e inspirador, não dura mais do que 40 luas.

Para o leigo, vamos à tradução: três anos, um mês e onze dias.

(Uns quebradinhos pra mais ou pra menos.)

O que vem depois é amizade, hábito, convivência, aceitação.

O tema sempre gera polêmica – e eu saio da roda rapidinho.

Não tenho a procedência, nem qualquer convicção sobre o que digo.

Sei que assim garanto minha fama de Don Juan ao dileto público que tem o desplante de me ouvir.

Aliás, bem que gostaria de fazer um Don Giovanni no teatro, mas fiquei só no projeto.

Agora, sejamos sinceros, não tenho mais idade.

Como a conheci, Felisberto?

Era um jogo da Copa do Mundo.

O Brasil enfrentaria a Suécia, lembro bem, pois havia uma discussão sobre qual time deveria jogar de camisa amarela. Os uniformes são bem parecidos. Alguém achou por bem levar um televisor enorme para o Cultura Artística e assim a turma toda trocaria o ensaio para ver nossos craques em ação.

Pensei em dar uma escapada.

Não sou exatamente um fanático por futebol, menos ainda pela tal seleção canarinho que, neste dia, jogaria de azul.

Acabei ficando por falta de opção e coragem.

O pessoal se reunindo, e chegando gente. Fulano convidou Beltrano que trouxe um conhecido que veio com um primo e a namorada. Aquela história de sempre. Coração de mãe. Numa dessas levas, ela chegou convidada por não lembro quem “para uma passadinha rápida”.

Não saiu mais da minha vida.

Com idas e vindas, estouramos a validade das luas dos amigos indígenas.

No início, ninguém acreditou que pudesse dar certo.

Água e óleo, sabe como?

Também nós estávamos, a princípio, conscientes.

Não haveria envolvimento.

Pois sim…

Pegamos gosto em ser felizes juntos. Até inventamos um tal Planeta Sonho. Onde, a bem da verdade, só cabiam eu e ela e ela e eu.

Nele, reinávamos absolutos, distante de invasões de hunos, godos e visigodos. Acesso restrito, sem cláusula de negociação.

Criamos até uma senha, pessoal e intransferível:

Noites com Sol

Claro que tamanha felicidade incomoda os arredores.

Isolados em nós. Cada vez mais e mais radiantes.

De um lado e de outro, começaram as pressões.

Na boa, não vou culpar ninguém.

Também dei minha colaboração.

Andava reticente. Fiz e desfiz tantas casas com aqueles aborrecimentos de praxe. O livro é meu, o CD é seu, o sofá fica com quem? Que besteirada. Fique com tudo, pronto.

Só que havia dado um jeito legal na minha vida. Um estúdio maneiro, nos arredores do antigo Centro paulistano. Me sentia bem instalado, dono do meu lugar, dono do mundo.

Acho que fui egoísta. Acho, não. Tenho certeza.

Para não falar nas conversas sobre filhos, quantos eu gostaria de ter?

Desconversava:

– Tô mais pra vovozinho.

– Não fale assim, respondeu. – Sabe que eu não gosto.

Fez-se um tonitruante silêncio. Daqueles que precedem aos vendavais.

Vendavais que estouram janelas, estilhaçam sentimentos.

Cada qual a ruminar o próprio desvão, o segredo que não se disse…

 

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