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Taiguara

Entrevistei Taiguara duas vezes, como disse ontem.

O cantor voltava do primeiro auto-exílio e tentava retomar a carreira vitoriosa até meados dos anos 70. Já não era mais o mesmo intérprete promissor que apareceu, anos antes, na noite paulistana, no famoso templo da bossa-nova João Sebastião Bar.

Nas duas vezes em que nos encontramos, vestia uma espécie de farda bege e trazia um travo de tristeza no olhar. Tive a impressão de que falava sem muita convicção de ser ouvido, como fora tempos atrás, sobre os novos trabalhos.

Não era mais o cantor romântico e, suponho, poucos se interessavam em ouvir o revolucionário…

II.

Na primeira entrevista, conversamos no saguão de um modesto hotel nas imediações da Estação da Luz. O cantor/compositor fez questão de ressaltar a expectativa de que o País, enfim, retomasse o caminho da redemocratização.

Vivíamos o tempo da anistia política, do fim da censura, da abertura lenta, gradual e restrita – fim dos 70, início dos 80.

A segunda vez foi uma coletiva – e surreal. Os repórteres encontraram Taiguara nas dependências da Copacabana. Não tenho bem certeza se era esta mesmo a gravadora. Lembro, no entanto, que o músico entremeava as respostas às perguntas dos jornalistas com idas ao piano, onde se punha a declamar versos das músicas censuradas pela ditadura que ora se esvaía, mas continuava atenta.

Parecia entrar em um delírio musical e discursivo.

Estranhamos…

Depois em conversa sobre o fato na redação, alguém me cutucou:

— Não era delírio, não. Ele queria ver qual de vocês teria coragem de publicar os versos censurados.

III.

Uruguaio de nascimento, Taiguara pertenceu à geração de ouro da MPB – Chico, Gil, Caetano, Milton, Elis e tins e bens e tais. Também foi um dos primeiros a se destacar. Passou pela era dos festivais, emplacando, pelo menos, três grandes canções (“Modinha” e “Helena, Helena, Helena”, como intérprete nos festivais da Tupi) e “Universo no Seu Corpo”, como autor e intérprete, no Festival Internacional da Canção, da Globo.

Viveu um momento de enorme sucesso como cantor romântico. A obra prima “Hoje” marca o auge da sua carreira. No entanto, foram suas convicções políticas que o levaram para dois auto-exílios. Viajou pela Europa e África, pois dizia não poder cantar num País sem o mínimo de liberdade e respeito ao seu povo.

Implacável. A mídia o esqueceu.

Depois, não soubemos entendê-lo…

IV.

Taiguara morreu em 96. Aos 50 anos