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Relatos em blogs costumam ser pessoais, me diz a moça.
E pergunta, em tom de provocação:
-- É certo o jornalista fazer o mesmo (deixar de lado os princípios da profissão) e colocar seu ponto de vista em um site aberto assinado em seu nome?
Não vejo problemas em relatos pessoais.
Dois dos nossos maiores repórteres/cronistas, Rubem Braga e Joel Silveira, fizeram ‘relatos pessoais’ em muitas de suas reportagens. Iam além do registro dos fatos. É certo que não existia a ditadura dos manuais de redação, nem os jornais eram “produtos mercadológicos”, com hora para fechar e chegar às bancas.
O jornalista não é só um técnico.
É um baita equívoco pensar assim.
Conto histórias no blog – vividas e/ou inventadas.
Um naco da realidade que registro no meu enfileirar de letrinhas.
Me sinto um cronista – e gostam quando me reconhecem assim.
Quero, porém, fazer uma ressalva.
Há um equívoco comum nas pessoas quando falam de imparcialidade em jornalismo.
Confundem imparcialidade e isenção.
Nenhum jornalista consegue ser isento, neutro.
Quando o repórter escolhe o lead da matéria já está fazendo uma opção interpretativa.
Quando o editor escolhe o abre da página, idem.
Imparcialidade pressupõe análise, juízo, minha cara.
O jornalista é imparcial quando aproxima a reportagem da verdade dos fatos que recolheu.
Por isso, são etapas essenciais a apuração, o ouvir todas as fontes possíveis e imagináveis, cobrir todos os ângulos da questão. Sem qualquer sombra de dúvida, esses momentos se sobrepõem ao refinamento do texto – que precisa ser claro, objetivo, organizado; muito mais do que literário.
Acredite ou não nessa verdade que se revelar após todo esse processo será este o teor da matéria que levará à opinião pública.
Ser parcial é modificar essa verdade em benefício próprio ou de um grupo de interesses. É sobrepor o individual o coletivo.
Jornalismo não é isso.
É a intransigente defesa do bem comum.
Nesse aspecto, pautei minha vida profissional – e meus textos.
FOto no Blog: Caio Kenji |