II.
Logo conversavam como bons amigos – até um pouquinho mais.
Noemi contou que estava de dieta – e log foi interrompida pelo espanto de Diniz:
-- Que bobagem...
(E tome olhares gulosos!)
Ela continuou falando, como se nada percebesse.
Talvez por isso se sentira um tanto frágil hoje no serviço.
- Talvez năo sei...
“Năo há de ser nada”, contrapôs Diniz.
Ele, por sua vez, reclamou de uma incômoda “dorzinha no peito”.
Mas, năo perdeu a chance de derramar-se:
-- Ando muito deprę, essa coisa de ser um homem só...
“Que bom!”, exclamou Diniz, percebendo, em seguida, a bandeira que dera.
Estavam ali, nesse clima – até as cadeiras foram discretamente arrastadas, uma próxima a outra – quando o inevitável aconteceu. Primeiro, chamaram o nome de Noemi para ser atendida no consultório 5; depois, foi a vez de Diniz, no consultório 1, “no andar de cima”, orientou solenemente o segurança de terno escuro e gravata malajambrada no pescoço.
E ainda dizem que a Saúde Pública no Brasil é lenta...
Quando saíram, cada qual com a receita de remédios nas măos, ainda tinham esperança de reencontrar-se. Esticaram o pescoço, voltaram ŕs dependęncias em que estavam – em văo. Logo foram orientados a se retirarem.
-- O PS hoje está com um movimento acima do normal.
Concordaram, e se retiraram anonimamente, assim como chegaram.
Năo durou muito a tristeza. Logo o sorriso do mais velhos dos cinco filhos de Diniz veio recepcioná-lo.
-- Firmeza, véio? Precisa se cuidar. Quer perder de ver o Curingăo campeăo da Libetadores?
Alguns minutos depois, foi a vez de Noemi sair pela mesma porta.
O marido ciumento a esperava:
-- E aí? O doutor te tratou com respeito? Esses caras gostam de apalpar as pacientes. Com a minha mulher, năo...
Ela sorriu resignada.
Mas, năo deixou de dar uma olhadinha pelos arredores.
Ah, essa incrível vocaçăo que o brasileiro tem pelo sonho, pelo romance... |