Caros,
Tenho por dever fazer uma correçăo ao que ontem aqui escrevi.
Dois de meus pares, no Colégio Nossa Senhora da Glória, chegaram, sim, a alçar voo mais ousados no mundo artístico. Foram eles: o Álvaro, um garoto rechonchudo, que fez parte do grupo musical Os Caçulas, e o Francisco de Paula Brandăo Bisneto que, mais tarde, desenvolveu uma carreira uma promissora carreira de ator com o nome artístico de Chiquinho Brandăo.
Isto posto, retifico aqui o que ontem disse erroneamente.
Havia, entre nós, quem năo pensasse unicamente em futebol e garotas.
Prova irrefutável disso, os dois supra e abaixo citados.
Os Caçulas, para quem năo se lembra, era um grupo formado por garotos – Alvinho era um deles – e emplacou um megassucesso ŕ época: “A Chuva Que Cai”, uma versăo que chegou a vender bem e figurar nas paradas de sucessos da época. O grupo chegou a participar de alguns programas da Jovem Guarda, mas năo chegou a emplacar um segundo hit.
Năo tenho grandes lembranças do Alvinho (pertencia a uma outra turma, creio) - e nunca mais soube dele.
Já Chiquinho era um amigo divertido, e talentoso.
Assim que ganhei o violăo (aquele que pedi ao meu pai, um humilde Gianini, comprado com muito suor pelo Aldăo), Chiquinho vinha ŕ minha casa na vă tentativa de me ensinar alguns acordes. Eu andava desolado, minhas primeiras aulas com o instrumento foram desanimadoras.
- Vou lhe ajudar, disse-me o amigo.
Só que o cara só tocava bossa nova. Tocava todos os classicos – “Garota de Ipanema”, “Primavera”, “Samba do Aviăo”, “Gente”, um repertório e tanto.
Eu ficava deslumbrado em vę-lo dedilhar aquelas dissonâncias todas e, assim que ele ia embora, tentava reproduzir algumas das harmonias, mas sem grandes avanços.
Chiquinho saiu do Colégio depois que discutiu – isso mesmo, discutiu – de igual para igual com o Irmăo Fidélis năo lembro bem qual foi o assunto.
Naqueles tempos, questionar um professor era algo inimaginável.
A ousadia lhe valeu o convite para deixar o colégio.
Soube depois que a família também se mudaria de bairro – e nunca mais o vi.
Quer dizer, só o vi na TV, anos e anos mais tarde, na figura do indomável Professor Poropopó.
Chiquinho morreu em 1991, aos 38 anos, logo depois de participar da série “O Sorriso do Lagarto”, na Globo. |