Conheci o Peixoto nos idos de 80.

Tinha alguns anos a mais do que eu, era falante, cheio de histórias que gostava de contar.

Viera ao jornal para divulgar um dos tantos eventos que, como dono de uma escola de natação no Ipiranga, gostava de promover.

Alguns anos depois, várias vezes o exercício do jornalismo nos pôs frente a frente.

Só que por outro – e louvável – assunto.

Peixoto transformara-se em convicto defensor da luta antimanicomial.

Chegou a ser vice-presidente do movimento, como representante da Associação Franco Basaglia, em São Paulo.

O que motivou essa verdadeira conversão de Peixoto foi o surto que seu filho André tivera e que transformou a vida do rapaz “em desassossego sempre presente”.

Peixoto não o abandonou sequer um minuto.

Daí, a militância e os novos rumos que deu à própria vida.

Vendeu a escola de natação, e transferiu-se para São Vicente, onde André sentia-se melhor, apesar das aflições existenciais que o perseguiam.

-- A vida é eterna, não é, pai?

Era um dos questionamentos que André lhe fazia.

Peixoto nunca teve uma resposta precisa, como, aliás, nenhum de nós a tem.

No entanto, este era o ponto de partida para longas conversas sobre o “absurdo da arte e do ofício de viver”.

Conversas que ficaram e hoje geram lembranças, lindas, alegres, divertidas, carinhosas, amorosas, cheias de ternura.

“Foi uma linda companhia, esta. Foi um ente iluminado, um ente encantado, com quem aprendi muito”, escreveu Peixoto num texto homenagem/desabafo que enviou, via email, a todos os amigos.

No dia 31 de outubro de 2010, às 16 horas, André encarou o pai, com o brilho de um leve e delicado sorriso nos olhos e, se despediu:

-- Pai, agora eu fico por aqui. Segue a tua vida. Já te ensinei tudo...